São Paulo, sexta-feira, 4 de outubro de 1996
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Yanagi cria com nações e formigas

DA REPORTAGEM LOCAL

"Enquanto os homens ainda acreditarem em símbolos haverá a necessidade de uma fazenda de formigas."
A frase de Yukinori Yanagi, de início estranha, se explica ao primeiro olhar dirigido ao seu trabalho apresentado no espaço reservado aos artistas da Ásia na Universalis.
"The World Flag, Ant Farm" ("A Bandeira Mundial, Fazenda de Formigas" é uma instalação que mostra bandeiras de países do mundo sendo lentamente corroídas por uma comunidade de formigas.
Por se tratar uma bienal brasileira, a tarefa da destruição será realizada por saúvas, uma espécie de homenagem ao cenário local.
Compostas de areia colorida, caixa e tubo de plástico, as bandeiras de Yanagi fazem parte de seu "The World Ant Farm Project", que ele realiza desde quando estudava na Universidade de Yale.
Os insetos e países desse artista de 35 anos, nascido em Fukuoka, serviram sempre como um celeiro de metáforas, da vingança da natureza à mais aguçada crítica de teor político contra os impérios.
Mas seu tema, segundo suas próprias palavras, reside em uma única questão: esmiuçar o conceito de "nação", pesquisar como vivenciamos, sofremos (ou nos realizamos) pela existência dessa idéia.
Discípulo dos primeiros heróis do modernismo -que elevaram toda espécie de material à condição de arte-, Yanagi traz também em sua obra uma poderosa lembrança dos jogos e das brincadeiras infantis.
Há então em Yanagi, que é hoje um dos mais conhecidos nomes das artes plásticas do Oriente -e também a grande aposta- uma incomum mistura de apreensão com o futuro aliado à esperança e ao humor em todas possibilidades que parecem surgir a cada novo instante.
Materiais
Ao lado de Yanagi no uso de materiais incomuns (se pudermos entender formigas como um material) está outro representante asiático, o coreano Soocheon Jheon.
Quem se aproximar do trabalho encontrará no chão de seu abrigo de madeira -"os casulos para erodir o espaço", nas palavras do curador Tadayasu Sakai- latas amassadas de cerveja e de refrigerantes que criam um efeito com cores.
Mas se o vidro e os espelhos, assim como terra, continuam ainda uma constante entre os vários trabalhos que se espalham pelos três andares do pavilhão da Bienal, há também aqueles que partem para ações mais radicais.
Para conseguir um pouco de movimento em sua instalação, o jamaicano David Wayne Boxer (representação por países) colocou peixes em taças com água.
O cubano Ricardo Brey (Universalis) prefere os pneus, e a colombiana María Theresa Hincapié prefere "tudo". As performances que realiza são feitas com objetos e materiais que recolhe em suas caminhadas pelo mundo.
O Brasil estará representado nessa "grande apropriação" do modernismo pelo trabalho de Roberto Evangelista.
A instalação "Ritos de Passagem" reúne mil pares de sapatos (e tênis) e suas respectivas caixas, além de pedras arrancadas da calçada de uma cidade da Amazônia.
Kathleen Schimert, integrante da seleção norte-americana na Universalis, optou por criar esculturas com fita crepe.
Já o alemão Christian Lemmerz (da representação oficial da Dinamarca) prefere a companhia de 500 moscas mortas para compor sua obra "Ponto de Virada".
Antes, o artista havia pensado em utilizar cabelo, pele e sangue.

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