São Paulo, sexta-feira, 4 de outubro de 1996
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Consumo de lampreias favorece o equilíbrio ecológico

EITAN ROSENTHAL
ESPECIAL PARA A FOLHA

O refinamento de paladar dos povos europeus pode ajudar a salvar a população de trutas e outros peixes de carne branca dos Grandes Lagos, na fronteira entre o Canadá e os Estados Unidos.
Desde a década de 20 as águas dos lagos Huron, Erie, Ontario, Michigan e Superior vêm sendo infestadas de lampreias, peixes com aspecto de serpentes, naturais do oceano Atlântico, que chegaram aos lagos pelo canal de Saint Laurence, em períodos de desovas.
As lampreias, parasitas agressivas, encontraram lá um ambiente propício para se multiplicarem, com a fartura de peixes dos quais sugam o sangue com suas bocas redondas em forma de ventosas. Chegam a medir 80 centímetros e podem atingir até meio quilo de peso.
Livres de seus predadores naturais, as lampreias passaram a desequilibrar o meio ambiente dos Grandes Lagos, reduzindo significativamente a população dos peixes nativos.
O problema passou a exigir atenção especial das autoridades de preservação, consumindo vultosos recursos públicos, principalmente de Canadá.
Pesquisadores norte-americanos da Universidade de Minnesota, porém, estão desenvolvendo um método mais eficaz e de resultados mais duradouros que os tentados até aqui, além de economicamente mais viável: comê-las. Para isso conta com a boa reputação que estes peixes gozam junto à culinária portuguesa.
O primeiro lote de peixes já seguiu para o velho continente para os devidos testes de degustação. Caso tenham seu sabor aprovado, as lampreias virão, vivas como exige o receituário, ao salgado preço de vinte e três dólares por libra (US$ 50 por quilo kg).
História
A história européia registra momentos de grande apreciação às lampreias. Segundo consta, o rei Henrique I, da Inglaterra, morreu ao se empanturrar delas. De fato sua carne, de sabor pronunciado, é bastante gordurosa e até indigesta para pessoas de estômago mais sensível.
A enguia, parecida no formato, é mais amplamente apreciada que a lampreia, especialmente na Europa e no Japão, por sua carne firme, de gosto forte e adocicado.
Esse peixe faz um dos mais caros e disputados sushis, chamado unagui, um dos poucos em que a carne do peixe é servida cozida e não crua.
No Brasil as enguias são pouco valorizadas. Os poucos peixeiros que as exploram tem pequeno mercado consumidor.
A versão em conserva, porém, que é usada na culinária japonesa, é importada da China e chega custando R$ 60 o quilo.
O produto é distribuída em São Paulo pela Matsutami (tel. 011/5589-6630), que o fornece para restaurantes como o Sushizen, Kozushi e Mariko.
Os brasileiros, ainda que sem se dar conta, têm comido cada vez mais um parente próximo da enguia.
Trata-se do congro-rosa, que vem do Chile e tem conseguido lugar de destaque nos cardápios dos nossos restaurantes.

E-mail: eitan@trattoria.com

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