São Paulo, sexta-feira, 4 de outubro de 1996 |
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Autora mescla lirismo e antipoesia
NELSON ASCHER
O nome de Szymborska já vinha sendo cogitado há tempos e sua premiação não é uma surpresa. É, além do mais, justíssima, pois se trata de uma poeta de primeira ordem, cuja fama internacional tem crescido nos últimos anos, principalmente por meio de traduções para o inglês. A mais recente e extensa foi acolhida com entusiasmo, no primeiro semestre deste ano, pelo "New York Review of Books", um indicador seguro de prestígio. Sua obra -em que se mesclam, num texto seco e exato, lirismo e antipoesia, indagações pessoais e o peso do passado coletivo- dá uma voz pessoal e inconfundível a uma geografia trágica, uma história desastrosa e se destaca no âmbito tanto de uma rica tradição, quanto de uma geração notável. Seu país, a Polônia, tem o duvidoso privilégio de se situar entre dois vizinhos ávidos e cruéis: a Alemanha e a Rússia. Repartido entre estes e a Áustria no final do século 18, ressurgiu depois da Primeira Guerra para ser logo tragado sucessivamente pelos nazistas (que perpetraram em suas terras a maior parte do Holocausto) e pelos soviéticos. Szymborska é reconhecida como membro do triunvirato de poetas poloneses de sua geração, com Tadeusz Rozewicz (1921) e Zbigniew Herbert (1924), cujo mentor poético e intelectual é Czeslaw Milosz (1911; Nobel de 1980). Uma excelente antologia que recolhe todos foi publicada no Brasil no ano passado ("Quatro Poetas Poloneses", tradução e prefácio de Henryk Siewierski e José Santiago Naud, Secretaria de Estado da Cultura do Paraná). Eles estão também representados no recente "Céu Vazio - 63 Poetas Eslavos", organizado e traduzido por Aleksandar Jovanovic (Hucitec, 1996). Suas primeiras traduções brasileiras divulgadas pela imprensa, no entanto, foram realizadas pela poeta carioca Ana Cristina César, em colaboração com a polonesa Grazyna Drabik. A obra de Szymborska fala desde o epicentro da sangrenta crise européia que dominou a história contemporânea. Ela fala com lucidez e força raramente igualadas em outros países, informada das inúmeras nuances político-ideológicas e lançando mão da miríade de recursos literários criados pelo modernismo internacional. Não é à toa que vários comentadores -Joseph Brodsky entre eles- consideram o conjunto formado tanto por sua obra quanto pela dos outros três poetas, ou seja, a poesia polonesa do pós-guerra, como o mais importante dos que se escreveram na época na Europa, talvez em todo o Ocidente. Texto Anterior: Poeta polonesa vence Prêmio Nobel Próximo Texto: UM POEMA Índice |
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