São Paulo, sexta-feira, 4 de outubro de 1996
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"Nocaute" golpeia violência urbana

ERIKA SALLUM
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Na tentativa de resgatar a indignação do ser humano diante da violência urbana e das lutas do dia-a-dia, as atrizes Cláudia Schapira, Lu Grimaldi e a diretora Beatriz Sayad decidiram escrever e encenar "Nocaute", que estréia hoje, às 21h30, no Centro Cultural.
A peça, composta de sete esquetes, trata das situações-limite do cotidiano, quando viver se torna uma aventura perigosa. "Hoje em dia, ir ao supermercado pode ser uma tragédia, assim como pode ser normal cometer um assassinato", diz Beatriz.
Para representar a metáfora, o palco se transformou em um ringue. Nele, os personagens, formados por tipos comuns (o ladrão, a dona de casa, o empresário etc.), mostram para o público o lado tragicômico de morar nas grandes cidades.
As cenas são independentes entre si, mas, de certa forma, correspondem-se umas com as outras. Um personagem de um quadro pode transitar em outro, em diferentes tipos de situações.
As atrizes, durante toda a montagem, fazem comentários a respeito do que se passa no palco, como se fossem o espelho das reações da platéia.
Segundo Cláudia, "é uma tentativa de comunicação com o público. Além disso, é o reflexo de nós mesmas".
Longe de parecerem fatalistas, as autoras pretendem, antes de tudo, expor o ridículo dessa situação.
"O patético está em continuar e não desistir. Vamos à lona, mas nunca a nocaute", completa a atriz.
Os sete atos -entre os quais, dois monólogos- são verdadeiros rounds, em que as interpretações têm ritmo rápido e impactuante.
Urgência
O texto surgiu da urgência das autoras em tratar dessa temática.
"'Nocaute' nasceu da nossa própria inação diante dos acontecimentos. A gente lê no jornal que alguém foi assassinado e diz 'nossa, estou atrasada, preciso sair'. Constatamos que o projeto humano está longe da perfeição, e o mínimo que nós, artistas, podemos fazer é nos indignarmos diante disso", afirma Cláudia.
Além do mais, há tempos que as três planejavam trabalhar juntas. Cláudia e Lu atuaram em "Pentesiléias", de Bete Coelho, e, no ano passado, montaram "Violeta Vita". O mais recente espetáculo de Beatriz foi "Mil Trezentos e Trinta e Sete".
A trilha sonora, assinada pela cantora gaúcha Laura Finocchiaro, é um "personagem à parte", nas palavras das atrizes. Beatriz explica que a música do espetáculo não funciona somente para criar o clima da peça, mas "é bastante presente, quase que ouvida e dançada pelo elenco".
(ES)

Peça: Nocaute
Direção: Beatriz Sayad Com: Lu Grimaldi e Cláudia Schapira
Onde: Centro Cultural São Paulo - sala Paulo Emílio (r. Vergueiro, 1.000, Paraíso, tel. 277-3611)
Quando: de quinta a sábado, às 21h30, domingo, às 20h30
Quanto: R$ 8

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