São Paulo, quarta-feira, 9 de outubro de 1996
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Mercado livre exige mudanças nas cooperativas

SEBASTIÃO TEIXEIRA GOMES
ESPECIAL PARA A FOLHA

O longo período de tabelamento do preço do leite provocou profundas distorções, tanto nos sistemas de produção, quanto na maneira com que alguns produtores analisam a atividade leiteira.
Essa política atrasou a modernização do setor, ao dificultar a especialização do rebanho.
Além disso, fez o produtor confundir preço do leite com lucro.
Agora estamos vivendo um novo momento, com os preços do leite e derivados livres do tabelamento. Esse sistema, iniciado no final de 1991, toma nova forma com a inclusão do pagamento por volume e por qualidade.
Hoje em dia, dentro de uma mesma indústria, seja ela particular ou cooperativa, cada produtor recebe um preço diferente por litro de leite vendido. Tais diferenças chegam até a 50%. Isto é, o preço mais alto chega a ser 50% maior que o mais baixo.
A permanência do preço diferenciado (e tudo indica que ele permanecerá, porque é uma exigência do mercado livre e cada vez mais concorrido) provocará profundas transformações no segmento de produção.
O novo quadro do mercado do leite deixou alguns dirigentes de cooperativas em posição desconfortável.
Se por um lado eles sabem que o mercado é soberano para estabelecer suas regras, por outro, ficam presos aos princípios cooperativistas que asseguram direitos iguais para todos.
Nesse dilema, descontentam a todos e correm o risco de serem esmagados pelas impiedosas forças do mercado.
As evidências têm mostrado que a saída passa por uma interpretação mais flexível do conceito de "direitos iguais para todos". Isto é, garantir o mesmo preço para todos que entregarem a mesma quantidade de leite com o mesmo padrão de qualidade.
Nessa realidade, novos papéis são reservados para os líderes rurais, especialmente para os dirigentes de sindicatos.
É inútil tentar substituir o governo com um tabelamento disfarçado. O mercado não aceita isso.
Entretanto, há muito o que fazer na criação de facilidades para reduzir o custo de produção. E nesse sentido a indústria de laticínios deve muito ao produtor, especialmente ao pequeno produtor.
As reivindicações devem ser concentradas nas ofertas de insumos e serviços em condições facilitadas.

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