São Paulo, quarta-feira, 9 de outubro de 1996
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Brasil vai importar menos leite este ano

SEBASTIÃO NASCIMENTO
DA REPORTAGEM LOCAL

A explosão na importação de leite e produtos lácteos que ocorreu em 95 não irá se repetir este ano.
Entre janeiro e junho de 95 entraram no país 194 mil toneladas de lácteos, contra 140 mil toneladas em igual período deste ano.
No total de 95 (12 meses), as importações ficaram perto de 400 mil toneladas.
Mas a previsão é que este ano devam manter a média histórica do país (150 mil t), segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Leite B.
"A produção nacional de leite está aumentando, assim como o consumo depois do Plano Real", afirma Sebastião Teixeira Gomes, professor da Universidade Federal de Viçosa (MG).
Segundo Gomes, a profissionalização do produtor ocorre mais rapidamente do que o esperado.
Ele cita como exemplo a Itambé, maior cooperativa mineira, que teve apenas 15% a mais de leite captado no período das águas (safra), na comparação com o período da seca (entressafra).
"É um sintoma da profissionalização do pecuarista", diz Gomes.
Outro obstáculo à importação foi a alta dos preços do leite em pó no mercado internacional.
"A pressão contrária aos subsídios na Europa e os preços elevados dos grãos no mercado norte-americano fizeram o leite em pó subir para US$ 2.000/t", diz Gomes.
O valor, segundo o professor, é quase o dobro do que o importador pagava no ano passado.
Já Jorge Rubez, presidente da Associação de Leite B, não vê nenhuma razão para o país ter importado tanto leite em 95.
"Andamos na contramão. Houve aumento do consumo no ano passado, mas também nunca se produziu tanto leite", afirma.
Segundo Rubez, o brasileiro bebeu uma média de 127 litros em 95, superando os 97 litros/ano que consumia no passado.
"Em compensação, a produção deu um salto de 12%. Foram 16 bilhões de litros em 94 e quase 18 bilhões em 95", diz Rubez, que espera que esse número seja superado este ano.
Ele critica ainda o que chama de competição desleal.
"O leite da União Européia e dos EUA é altamente subsidiado, o que impede a competição com o produto local", diz.
Segundo Rubez, o fazendeiro europeu recebe US$ 0,45 pelo litro de leite hoje. "O leite desembarca em Santos a US$ 0,18/litro", afirma.
Além disso, continua, tanto o leite como o queijo que para cá vieram tinham pouca qualidade.
Para Rubez, a explosão das importações ocorreu por um só motivo. "Tudo era muito barato e indústrias e cooperativas visavam unicamente o lucro", afirma.

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