São Paulo, quarta-feira, 9 de outubro de 1996 |
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Produtividade não chega aos salários
ALEX RIBEIRO
A conclusão faz parte de estudo sobre mercado de trabalho elaborado pelo Ministério do Trabalho e pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, do Ministério do Planejamento). Segundo o documento, a indústria de transformação registrou ganho de produtividade por trabalhador de 15,17% de junho de 95 a maio de 96. Nesse mesmo período, a renda real (descontada a correção da inflação) média teve ganho de apenas 1,85%. Segundo o documento, os trabalhadores não se beneficiaram dos aumentos de produtividade devido a seu "baixo poder de barganha no momento". Os dados sobre a renda são da Pesquisa Mensal de Domicílios do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Os dados sobre produtividade são do Boletim Economia, Capital e Trabalho da PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio. "Embora a renda real tenha aumentado, os ganhos dos trabalhadores têm sido menores que os ganhos de produtividade", afirmou André Urani, do Ipea. Quem fica com o ganho Dizer que a produtividade subiu significa afirmar que as indústrias estão produzindo mais com o mesmo número de funcionários e, basicamente, com o mesmo gasto na folha de pessoal. O documento do Ipea e Ministério do Trabalho não explica para onde foi a renda adicional gerada pelo ganho de produtividade e não incorporada pelos salários. Mas são vários os caminhos possíveis. O primeiro seria o financiamento dos investimentos que a indústria faz para obter o aumento de produtividade, como a compra de máquinas e o financiamento da dispensa de pessoal. A renda extra pode ainda estar sendo incorporada pela própria indústria, sob a forma de lucros maiores, ou transferida aos consumidores, via preços mais baixos. Ou seja: por conseguirem produzir mais com menos custos, as empresas oferecem preços menores. Essa última hipótese é a mais provável porque os balanços das empresas mostram que as margens de lucros caíram. Os preços no atacado também subiram bem menos que a inflação média. O ganho também pode estar sendo transferido para o sistema bancário (caso de empresas endividadas) ou para o exterior, pelo aumento da competitividade das exportações. Nesse caso, parte dos ganhos de produtividade pode estar virando aumento de divisas. Em outras palavras, o ganho de produtividade que não é incorporado ao salário pode tornar o produto relativamente mais barato. Com isso, as chances de vender o produto no exterior são maiores. Mais horas extras O documento mostra que também houve aumento da produtividade por hora trabalhada. A variação foi de 11,5% entre junho de 95 e maio de 96. O crescimento da produtividade por hora trabalhada é menor que o da produtividade por trabalhador. Isso indica que, além de produzir mais, os empregados estão fazendo mais horas extras. Próximo Texto: Venda maior não cria novos empregos Índice |
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