São Paulo, quarta-feira, 9 de outubro de 1996
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Arte brasileira transgride herança internacional

KATIA CANTON
ESPECIAL PARA A FOLHA

O título "15 Artistas Brasileiros" pode deixar transparecer um agrupamento aberto, sem pretensão temática. Mas a coletiva, com curadoria de Tadeu Chiarelli, constrói uma precisa e pertinente tese sobre um caminho da arte contemporânea brasileira.
Trata-se da constatação de um fazer e de um pensar artísticos que unem uma herança internacional -marcada pela abstração, pela repetição, pelo serialismo, pela acumulação- com uma vivência que resgata a construção artesanal, o trabalho manual da mulher, o improviso.
Se essa herança foi adquirida, sobretudo a partir de meados do século 20, com as experiências norte-americanas com a arte pop e o minimalismo, a gambiarra é ancestralmente nossa.
Na exposição, o resultado é uma somatória de obras que demonstram uma maturidade sintética. Regina Johas, por exemplo, compõe painéis retangulares, geometricamente distribuídos pela parede. Seriam puramente minimalistas, não fossem as cores cobreadas e as flores que estampam suas superfícies.
Nesse raciocínio artístico, é como se a arte brasileira, tão influenciada pelo pop e pelo minimalismo quanto nossos hábitos alimentares são influenciados pelo Big Mac, pudesse resplandescer uma solução genuinamente nacional.
Para dar corpo a esse pensamento, a exposição faz um percurso multirregional, visitando artistas de diversas partes e com diversas vivências do Brasil.
Telas pungentes do paraense Emanuel Nassar desembocam em ex-votos minimais feitos com pés de argila, do cearense Efrain Almeida, que se ligam a objetos de ferro, construindo uma cozinha barroco-mineira de Fernando Lucchesi.
As telas abstratas de pernambucano Montez Magno ganham cores do universo popular nordestino, enquanto os bichinhos de pelúcia amarrados e os ninhos roubados da carioca Lia Menna Barreto decifram uma perversidade feminina.
A arte brasileira contemporânea tem uma história que vem de fora e uma que vem de dentro. Ela é vital, visceral, picante.
É capaz de transformar uma pesquisa sobre formas e materiais, das mais austeras, numa explosão de organicidade e humor. Eis mais um dos milagres brasileiros.
Se dois artistas pudessem resumir a mostra, eles seriam Shirley Paes Leme e Luiz Hermano. Ela, mineira, constrói pensamentos formais de extremo rigor, usando, para tanto, galhos e elementos da natureza.
Ele, cearense, também contrapõe o artifício ao orgânico, criando esculturas como "feijões", feitos de cobre. Os dois apresentam, na mostra, "cubos", de ferro e de galhos.

Exposição: 15 Artistas Brasileiros
Onde: Museu de Arte Moderna (parque Ibirapuera, portão 3, tel. 011/549-9688) Quando: ter a sex, 12h às 18h; qui, 12h às 22h; sáb e dom, 10h às 18h
Quanto: R$ 5 (na terça, R$ 2)

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