São Paulo, quarta-feira, 9 de outubro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Nova forma equilibra melhor jazz e pop

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Apoiado em quatro salas de espetáculo, o novo formato do Free Jazz consegue equilibrar melhor suas atrações, com gêneros e estilos tão diversos como o bebop, o jazz-funk ou a dance music.
Para os apreciadores do jazz mais estrito, que volta a tomar conta de metade da programação, as salas New Directions e Club serão pontos de encontro certos.
Além do saxofonista carioca Zé Nogueira, que soma influências jazzísticas à tradição do choro e do samba, a sala New Directions destaca cinco promissores músicos da nova geração do jazz.
O mais original é o saxofonista James Carter. Seu trânsito por vários estilos do jazz -do tradicional swing à vanguarda free- vem causando furor entre os críticos.
Eles também têm elogiado o trompetista Nicholas Payton, 22, a ponto de compará-lo com o mestre Louis Armstrong. Já o talento do baixista Christian McBride, 23, é unanimidade entre os músicos de Nova York, que não param de requisitá-lo para gravações.
Há ainda um programa especial para fãs da guitarra. Mark Whitfield tem o mestre Wes Montgomery entre suas influências. Cultor do velho swing, John Pizzarelli também canta e costuma ser comparado a Chet Baker, graças ao estilo "cool" de seus vocais.
Já a sala Club destaca dois mestres da velha guarda. O trompetista Clark Terry e o pianista Ellis Marsalis (chefe do famoso clã musical de Nova Orleans) temperam o jazz tradicional com ingredientes de estilos mais modernos.
E para aqueles que gostam da famigerada "fusion", isto é, música pop com pitadas de improvisação, a sala Club oferece também a guitarra de Earl Klugh.
Planejado para shows maiores, o Main Stage (palco principal) também abre sua programação com jazz de alta qualidade. Além da veterana cantora Ernestine Anderson, apresenta o piano contemporâneo de Herbie Hancock.
Velho conhecido dos brasileiros, o norte-americano traz desta vez uma banda de feras: Michael Brecker (sax), John Scofield (guitarra), Dave Holland (baixo) e Jack DeJohnette (bateria). No repertório, versões jazzísticas de hits pop de Sade, Prince e Stevie Wonder.
Estrelas do pop
Nos dias posteriores, é a música pop que orienta as atrações do Main Stage. Em combinação bastante heterodoxa, a segunda noite inclui os ritmos afro do cantor malinês Salif Keita e a soul music do veterano Isaac Hayes -vencedor de um Oscar, em 1971, pela trilha sonora do filme "Shaft".
Mais natural é a associação da noite seguinte: popular no circuito das "raves" britânicas, o som eletrônico do grupo 808 State esquenta a pista para a cantora e popstar islandesa Bjõrk (ex-Sugarcubes), que interpreta canções de seus dois primeiros discos solo.
Além dessa noite, os fãs do pop dançante têm quatro atrações de peso na sala Groove. Entre as bandas britânicas que revivem as fusões do funk com o jazz (ou acid jazz, como preferem os ingleses), Incognito e James Taylor Quartet estão entre as melhores.
Excitante também será a noite que reúne o pop negro da cantora e baixista norte-americana Me'Shell Ndegéocello com o funk psicodélico e anárquico do pioneiro George Clinton, que não costuma tocar menos de três horas.
Também não poderia faltar no programa do festival uma dose de música brasileira, bem representada pelas canções de Edu Lobo, pelo piano bossa nova de Johnny Alf e pelo som instrumental de Paulinho Trompete.
Com seu novo formato, o Free Jazz volta preparado para durar pelo menos mais uma década.

Texto Anterior: Cid Ferreira bate papo na Internet
Próximo Texto: Local e quatro palcos são as novidades
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.