São Paulo, segunda-feira, 14 de outubro de 1996
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Adriani saúda 'sósia vocal'

JERRY ADRIANI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Prezado Renato,
Foi mais ou menos na metade da década de 80. Eu estava em Goiânia, fazendo o trabalho de divulgação de um disco, quando, visitando uma das emissoras locais, ouvi uma outra voz e pensei ser a minha própria voz.
É obvio que, ato contínuo, me apercebi que se tratava de uma outra pessoa cantando. Pouco depois, essa música ("Será") se tornou um sucesso nacional.
Em minhas andanças, fatos parecidos com esse tornaram-se lugar-comum. No começo, achei muito engraçado. Depois, confesso que comecei a me aborrecer em certos momentos. Posso imaginar o que deve ter acontecido com você, que era alvo de brincadeiras (eu diria até de mau gosto).
Lembro bem de nosso primeiro encontro. Foi no programa da Marília Gabriela, na Rede Bandeirantes. Entrei no estúdio e você já estava lá, sentado. Vi o pessoal da banda encarnando em você: "Olha aí, Renato, o homem chegou!". Você me olhou meio sem jeito, eu te cumprimentei, você sorriu timidamente, retribuindo a saudação. Aí, me perguntou, meio desolado: "Acha mesmo que eu canto parecido com você?". "Olha, Renato, sinto dizer, eu acho sim. Mas o diabo não é tão feio como parece". Uma ocasião marcante foi em Porto Alegre, quando você me disse que nós dois éramos "filhos vocais do Elvis". Depois, num prêmio Sharp -você concorria com "The Stonewall Celebration Concert". Foi a última vez que eu te vi.
Mas as "coincidências" continuaram. No final do ano passado, eu terminava de gravar um CD em italiano ("Io"), quando vi você mostrando o seu "Equilíbrio Distante" no "Vídeo Show", que acabou saindo antes do meu, alcançando um sucesso incrível.
Alguém me entregou o CD, dizendo que havia sido por recomendação sua, com um kit muito simpático de lembranças. Eu adorei.
No dia 27 de março deste ano, assistindo ao mesmo "Vídeo Show", ouvi a Cissa dizer que era seu aniversário. Mais uma coincidência: era aniversário de meu filho mais velho, Tadeu. Telefonei para o número que você havia me dado no Prêmio Sharp e você atendeu.
"Alô, Renato, é o Jerry Adriani". Uma pausa. Você disse a alguém: "É o Jerry Adriani". Eu te cumprimentei, disse que também era o aniversário do meu filho.
Como eu não acredito que tudo se acabe com a morte física, sei que você deve estar em algum lugar, com outra legião, "a dos anjos".
Seu platônico amigo,

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