São Paulo, terça-feira, 15 de outubro de 1996 |
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Festival naufraga na falta de acústica
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
O que se viu no local foram shows e shows desmoronando sob o peso de som inaudível e gotas de chuva sobre músicos de jazz. Isaac Hayes fez um show frio e conciso -as telhas expostas do galpão tragaram todo o som de sua voz. Essa foi a rotina no Main Stage, um buraco negro acústico, que sabotou a rave ensaiada pelo 808 State. Só Bjõrk conseguiu, aos gritos, afrontar a indigência. No Groove, o vexame foi maior. Me'Shell NdegéOcello não escondeu o mau humor de cantar num salão entuchado de gente se empurrando mergulhada em maçaroca sonora. Nunca se pensou que George Clinton fosse tão apático. Talvez não seja -é que ninguém entendeu nada do que ele disse. E vem a organização minimizar a tragédia, tratando-a de imprevisto. Na prática, é confissão de incompetência: um especialista em acústica teria avisado que a fábrica não estava preparada para shows. O Free Jazz demonstra cada vez mais uma estrutura organizada, eficaz. Nos cerca de seis meses que antecedem o evento, um cronograma planejadíssimo de entrevistas com (bons) artistas é obedecida candidamente pela imprensa, que oferece à marca de cigarros meio ano de publicidade gratuita. Quando chega a hora, o compromisso com a música recolhe-se a mero detalhe -o objetivo publicitário já foi largamente cumprido, não há mais que se preocupar. O público, animada pelo convescote social, nem parece nem perceber que o som está meio ruinzinho. Sendo assim, que tal eliminar os shows ao vivo em 97 e assumir a vocação para promocenter do Gugu? Vai ser um sucesso. Texto Anterior: Russo iria compor ópera sobre paixão gay Próximo Texto: Mais uma versão do virtual Índice |
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