São Paulo, terça-feira, 15 de outubro de 1996
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A estrada prometida

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Não sei onde fica Sinop, uma cidade com nome de sigla, de cuja existência só fiquei sabendo porque as folhas garantiram que FHC andou por lá. Seria louvável ter um presidente desbravador, indo aos grotões da pátria, levando o progresso e a paz social dominantes no resto do país.
Não foi bem isso. Ficamos sabendo que FHC, como candidato à Presidência, prometeu uma estrada que até agora não foi feita. Daí a sua declaração mais enfática ao povo sinopiano -ou sinopiense: "Disse que faria e vou fazer!".
Ninguém pode ser contra essa estrada prometida e que, dois anos depois da gestão do tal candidato, ainda está na promessa. Como o candidato voltou a ser candidato outra vez, e já se encontra em plena campanha eleitoral, nada de estranhar que as promessas antigas sejam reformadas dentro do saudável critério de que reformar é preciso.
Todos os presidentes da história do Brasil receberam acenos e apelos de continuísmo. Até mesmo os generais que nos governaram foram envolvidos pelo coro dos puxa-sacos interessados em ficar pendurados no poder.
Valeu, para a maioria deles, o imperativo moral, a ética pessoal forçada ou espontânea. Com JK, os dois partidos que formavam a maioria do eleitorado (PSD e PTB) estavam de acordo com um novo mandato, cuja motivação patriótica seria a "consolidação de Brasília e das metas implantadas". Geisel poderia continuar se quisesse, tinha poder para isso e não dependia de partidos. Rodrigues Alves sofreu de igual assédio, afinal, ele fizera um bom governo e os paulistas não se sentiam atraídos pela idéia de entregar a rapadura aos mineiros. Getúlio foi caso à parte, em todos os sentidos.
Um presidente sensível ao ridículo moral teria se mancado. Ao tomar posse, FHC prometeu solenemente diante do Congresso e da nação cumprir uma Constituição que ele está tentando reformar em causa própria.

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