São Paulo, domingo, 20 de outubro de 1996
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Biologia e psicologia disputam explicação do homossexualismo

DA "NEW SCIENTIST"

Alguns pais não suportam o fato de que seu filho seja homossexual. O neurobiólogo americano Roger Gorski os deixa aliviados quando, em suas palestras, diz que seus filhos herdaram essas características imutáveis, comportalmente expressas -mais ou menos como o que ocorre com as pessoas que nascem canhotas.
Gorski diz ao seu público que a homossexualidade é uma variação genética normal, que não é uma opção por um estilo de vida ou uma doença -física ou mental.
O neurobiólogo trabalha na Universidade da Califórnia em Los Angeles (EUA) e contribuiu, com suas pesquisas, para sustentar a idéia de que a homossexualidade tem origem biológica. Em 1992, ele mostrou que um feixe de nervos que conecta os lados esquerdo e direito de uma região do cérebro é maior entre os homossexuais do que entre os heterossexuais.
Um ano depois, Dean Hamer, geneticista dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, descobriu um grupo de genes que estariam associados ao homossexualismo.
Os genes transmitem as características hereditárias e contêm "instruções" para a fabricação das substâncias que fazem o organismo funcionar.
No entanto, Gorski é o primeiro a reconhecer que os cientistas estão misturando fatos com teoria biológica e que a homossexualidade ainda hoje é desconcertante.
O pouco que se sabe
É inquestionável que a homossexualidade é, pelo menos parcialmente, genética. Evidências disso aparecem nas pesquisas com gêmeos idênticos -isto é, naqueles que compartilham genes iguais. Se um homem tem um irmão gêmeo idêntico homossexual, ele têm 52% de probabilidade de também o sê-lo. No caso de gêmeos não-idênticos, a taxa cai para 22%, segundo Michael Bailey, da Northwestern University (EUA).
O estudo de Dean Hamer mostrou que partes de uma região do cromossomo X (chamada Xq28) eram compartilhadas por 33 de 40 duplas de irmãos homossexuais -isto é, eram idênticas. Os genes ficam nos cromossomos. Hamer acredita ter encontrado a região onde fica o gene relacionado à orientação sexual, que chamou de locus GAY-1.
No entanto, Evan Balaban, da Universidade Harvard (EUA), deplora o que chama de simplificação do tema "gene gay", cometida por jornalistas e cientistas.
Histórias de mãe
Uma das mais persistentes críticas à pesquisa de Hamer se dirige ao fato de ele ter se concentrado no cromossomo X (herdado da mãe). O pesquisador entrevistou membros das famílias dos homossexuais pesquisados e concluiu que havia consideravelmente mais homossexuais no lado materno da família do que no paterno.
"Quando você levanta a história médica da família, quem é que sabe mais sobre o assunto? Homens ou mulheres? Mulheres, naturalmente", diz Evan Balaban. Hamer defende sua metodologia. Diz que, no mesmo estudo, descobriu que as mulheres homossexuais estavam igualmente distribuídas entre os lados paterno e materno.
Mesmo que Hamer esteja certo o trabalho está longe de ser concluído. A região GAY-1 contém centenas de genes. Só depois que o gene, ou genes, responsável pela orientação sexual for isolado é que será possível desenvolver um trabalho sobre a base bioquímica das causas que levam homens a serem atraídos por outros homens.
Outras pesquisas
Na última década, os cientistas têm vasculhado o cérebro à procura de estruturas que possam diferenciar homens homossexuais de seus irmãos hetero. Três descobertas se destacam. A já citada pesquisa do neurobiólogo Gorski, o fato de que a região do cérebro que contêm o "relógio do corpo" ser também maior nos homossexuais, e a evidência de que uma outra região do hipotálamo -a INAH-3- é maior nos heterossexuais.
No entanto, tudo o que a maioria dos pesquisadores pode dizer ainda é que, de algum modo, genes, hormônios e estruturas cerebrais estão associadas ao homossexualismo em alguns homens.

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