São Paulo, domingo, 20 de outubro de 1996
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Psicólogo contesta teorias biológicas

DA "NEW SCIENTIST"

Daryl Bem, psicólogo da Universidade Cornell (EUA) não se impressiona com os fatos reunidos pelos biólogos. "Correlações entre o cérebro e o homossexualismo não explicam a causa. A orientação sexual não é genética", diz.
Para Bem, as pessoas nascem como um papel em branco no que diz respeito à sexualidade. A herança genética afeta o temperamento e o comportamento e isso, por sua vez, é que molda a orientação sexual definitiva.
Bem argumenta com base num estudo de cerca de 1.000 mulheres e homens homossexuais e de outros cerca de 500 heterossexuais da região da cidade de San Francisco (EUA), realizado em 1981 pelo Instituto Kinsey para a Pesquisa em Sexo, Gênero e Reprodução em Bloomington (EUA).
Segundo o estudo, 63% dos homossexuais homens entrevistados disseram que, na infância, não gostavam de brincadeiras tipicamente masculinas, contra 10% dos homens heterossexuais; 48% dos homossexuais afirmaram que preferiam brincadeiras definidas tradicionalmente como tipicamente femininas, contra 11% dos heterossexuais. Outros 48 estudos confirmaram esses resultados.
Bem especula que os "meninos-que-se-comportam-como-meninos" gostam de um pouco de truculência para se diferenciarem do universo mais suave e introspectivo das meninas, e passam, assim, a encarar as mulheres como algo diferente e exótico.
Esse sentimento é traduzido em comportamentos diante do sexo oposto que são, a princípio, encarados como agressivos mas que, na adolescência, estimulam o desejo sexual.
Segundo Bem, o que os genes podem fazer é influenciar um menino de modo que ele não tenha o comportamento típico de seu gênero. Ele fica então distante de outros meninos e, mais tarde, os considera sexualmente atraentes.
O familiar é a antítese do exótico. Pessoas criadas juntas -mas não parentes- não sentem atração sexual recíproca quando adultas.
Jeffrey Hall, que estuda o comportamento sexual das moscas de frutas, na Universidade Brandeis (EUA), leva Bem em consideração.
A teoria do psicólogo deixaria um espaço para a atuação dos genes: eles poderiam determinar a orientação sexual por meio da especificação do tipo de brincadeiras preferidas na infância, diz Hall.
Hall lembra também que está longe a determinação experimental da causa da homossexualidade. Afinal, quase metade dos irmãos gêmeos idênticos dos homossexuais são heterossexuais.

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