São Paulo, segunda-feira, 21 de outubro de 1996
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Chegando agora ao Mercosul

HELCIO EMERICH

Após a queda do muro de Berlim, muitas corporações da Europa, dos EUA e da Ásia apontaram o seu marketing internacional para o Leste Europeu. Imaginavam encontrar um novo Eldorado para expansão dos seus negócios.
Algumas conseguiram êxito. Outras trombaram com a demora no processo de abertura econômica e com os entraves herdados da pesada burocracia do antigo bloco socialista.
Grandes multinacionais deram as costas para o Hemisfério Sul, onde começavam a germinar, a partir do Chile, idéias como a da desregulamentação e da privatização.
Os mercados da América Latina entraram na onda do livre comércio se organizando em blocos de interesses comuns.
Surgiram o Caricom (países do Caribe), o Cacm (países da América Central) e o Mercosul, integrado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai e em vias de filiar novos sócios como Chile, Venezuela e Bolívia.
É claro que a histórica instabilidade política e a estagnação econômica da maioria dos países da América Latina, hoje aparentemente superadas, contribuíram por um longo período (a famosa "década perdida") para desviar o foco do capital estrangeiro. Mas não há dúvida de que a visão das multinacionais foi também afetada pela miopia do seu marketing.
Basta lembrar que, como mercado, só o Estado de São Paulo, cujo tamanho é mais ou menos igual ao do Estado da Carolina do Norte, nos EUA, tinha um Produto Interno Bruto maior do que o PIB somado da Hungria, Bulgária e ex-Tcheco-Eslováquia.
O fato é que algumas companhias que apostaram primeiro na América do Sul se posicionaram vantajosamente à frente dos seus concorrentes tradicionais. Foi o caso das montadoras de automóveis que atuam no Brasil.
Não vai ser uma tarefa fácil recuperar o tempo perdido. Quando se raciocina em termos de blocos econômicos, o desafio é outro.
As corporações que chegam agora aos mercados emergentes da América Latina não poderão se esconder atrás de barreiras protecionistas. A competição poderá vir tanto de São Paulo ou Buenos Aires como de Milwaukee ou Toronto.
A abolição das tarifas alfandegárias, como acontece no Mercosul, significa (e isso vale também para as empresas que já estavam por aqui) não só maiores oportunidades de negócios, mas mercados mais seletivos e exigentes. Só sobreviverá quem se enquadrar na dura lei da melhor qualidade com menor preço.
Os consumidores do bloco, há anos acostumados a uma oferta pobre, de baixa qualidade e com altos preços, serão cada vez mais sofisticados e rigorosos nas suas decisões de compra.

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