São Paulo, quarta-feira, 23 de outubro de 1996
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PMDB ameaça ir contra FHC se perder Senado para ACM

RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os senadores do PMDB declararam guerra a Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e mandaram um recado ao Palácio do Planalto: se o partido perder a presidência da Casa para outro aliado do governo, ameaça fazer oposição nos dois anos da gestão da próxima Mesa Diretora (1997 e 1998).
Os peemedebistas ameaçam, inclusive, votar contra a emenda constitucional que permite a reeleição de FHC.
Assim os próprios peemedebistas explicaram a decisão tomada ontem por 23 dos 24 senadores da bancada -inclusive o presidente do Senado, José Sarney (AP)- de não abrir mão da presidência da Casa e encarar como agressão política qualquer tentativa de outra legenda atrair senadores peemedebistas.
Consenso
"O candidato do partido será escolhido por consenso, em janeiro, junto com a discussão da emenda da reeleição", disse o líder, Jader Barbalho (PA).
"Se o próximo presidente não for do PMDB, o partido vai partir para a obstrução. Vamos parar o Senado. Não passa nada", afirmou Carlos Bezerra (PMDB-MT), resumindo o ânimo que prevaleceu durante a reunião.
"A decisão foi um ato político. Temos força: num total de 81 senadores, 24 bloqueiam qualquer coisa", afirmou Ney Suassuna (PB).
Reação
A decisão foi uma reação às articulações de ACM para levar senadores do PMDB para o PFL. ACM quer aumentar a bancada do seu partido, que tem 22 senadores (dois a menos do que o PMDB), para garantir sua eleição à presidência da Casa. Segundo a tradição do Senado, essa cargo é do maior partido.
Interpretação
Para atrapalhar os planos de ACM, os peemedebistas fizeram uma interpretação do regimento do Senado e concluíram que a composição partidária do início da legislatura (fevereiro de 95) vale durante toda sua duração (até fevereiro de 97), independentemente das mudanças que acontecerem.
"Essa tese é esdrúxula", reagiu ACM. "Vamos ver quem é majoritário até janeiro. Eu não tenho a pressa e os receios que o PMDB está tendo", disse.
Senadores de outros partidos, segundo apurou a Folha, acham que o PMDB está querendo apenas fortalecer seu cacife para negociar seus interesses com o governo.
Temer
Outro prejudicado pela decisão deve ser o líder do PMDB na Câmara, Michel Temer (SP). Se o PMDB ficar com a presidência do Senado, serão reduzidas suas chances de ser eleito presidente da Câmara, já que há uma prática de o PMDB ficar com uma presidência e o PFL com a outra.
"A decisão da bancada de deputados é batalhar pela presidência da Câmara independente da posição do Senado. Eu não tinha ilusões de que o PMDB do Senado, sendo majoritário, fosse deixar de pleitear o cargo", disse Temer.
Ausência
O único peemedebista ausente à reunião foi Gilberto Miranda (AM), que estava negociando com ACM sua ida para o PFL. Miranda está em Nova York. Barbalho disse que ele continua no partido.
Em nota assinada pelos presentes à reunião, o PMDB avisou que não quer "estimular dissensões partidárias entre os pares no âmbito do Senado Federal para a formação da futura Mesa, período 97/98".

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