São Paulo, quarta-feira, 23 de outubro de 1996
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Balzac fazia cinema

INÁCIO ARAÚJO
DA REDAÇÃO

"Coronel Chabert" (Eurochannel, 22h) começa história por ser uma história fabulosa: em 1807, Chabert, coronel de Napoleão, morre em combate. Dez anos depois, o mesmo Chabert reaparece.
O romance de Balzac é, possivelmente, a matriz de um filão ficcional com recentes desmembramentos aqui no Brasil mesmo (um menino desaparece; o pai o reencontra tempos depois; seria ele, de fato, o garoto que sumiu?).
Mas Balzac tinha algumas cartas na manga que valem para o filme. De 1807 a 1817, o mundo mudou. A Revolução Francesa foi derrotada; a monarquia, restaurada.
Para além da dúvida sobre o Chabert de 1817 ser ou não um impostor, há outras questões que o tornam (sobretudo no caso de ser ele mesmo) um indesejável.
Primeiro, o que fazer com um coronel de Napoleão sem Napoleão? E com sua viúva (hoje casada com um nobre)? E com a herança?
A vantagem é que Balzac fazia cinema no século 19. Só faltava imagem. Com bom-senso, o diretor Yves Angelo administrou adequadamente a ficção, escalou atores de primeira linha (Gérard Depardieu, Fabrice Lucchini, André Dussolier) e criou um ambiente compatível com as descrições de Balzac.
Numa história em que os significados se disseminam (nela estão implicados o tempo, o sentido da existência, a ficção, a história), não é irrelevante Fanny Ardant fazer o a viúva Chabert. Ela que, na vida real, é a viúva de François Truffaut: a atriz exata para uma história que, como uma dobradura, mostra aos poucos suas faces.
(IA)

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