São Paulo, quarta-feira, 23 de outubro de 1996
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Alanis celebra liturgia rock para adolescentes

THALES DE MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL

Público total: mais de 5.000 pessoas. Adolescentes: cerca de 90%. Garotas: quase 70%. Esses são números aproximados, colhidos sem rigor de pesquisa. Mas ilustram a celebração de rock'n'roll que foi o show de Alanis Morissette no Olympia, na segunda-feira.
Poucos minutos depois de pisar no palco, a cantora já dá todas as razões para as cifras espantosas que seguem seu álbum "Jagged Little Pill", com mais de 20 mil cópias vendidas no planeta.
Quase todas as letras escritas e cantadas por Alanis falam sobre as garotas, e elas formam a maior parte de seu público. No entanto, ela tem atrativos para todos que gostem de rock como o rock deve ser: gritado, suado e desencanado.
Alanis não amacia. Entra no palco tocando sua gaita com fúria e já começa a cantar, se esgoelando. Muito na dela, de calça preta meio velha e camiseta azul, vai apresentando as músicas e parece não ligar para a reação do público. Que, diga-se, é a melhor possível.
Até a terceira canção, tudo indica que será um bom show de rock. Alanis canta bem, numa extensão vocal que suas gravações em estúdio não revelam. Sua banda é um bando de moleques com garra, tocando forte o tempo todo.
Aí vem o primeiro hit da noite, "Hand in My Pocket", que desencadeia uma liturgia seguida por Alanis e seus fiéis. A garotada canta a letra inteira, algo que se repetiria em quase todas as músicas.
Alanis exibe uma postura que mistura transe com os gestos de um autista. Num clipe isolado, pode parecer afetação. No palco, dá para notar que a garota realmente atinge seu nirvana pessoal.
Grita, pula, balança a cabeça freneticamente, gira o corpo até ficar tonta e corre desembestada de um lado a outro do palco.
A catarse é tamanha que, na parte final do show, o público acompanha o transe da cantora. Alanis dá bis duas vezes e os garotos, encharcados de suor, vão encontrar os pais que vieram buscá-los.
Um punhado de hits, uma banda afiada e com muita gana de tocar, uma cantora excepcional que dá o sangue em cima do palco -se depender do que Alanis mostrou no Olympia, 20 milhões de discos é só o começo.

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