São Paulo, quarta-feira, 23 de outubro de 1996
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Irlandeses se dizem 'hollywoodianos'

MURILO GABRIELLI
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Fazemos cinema hollywoodiano", assim classificam seus filmes os irlandeses Terry George e Jim Sheridan, respectivamente diretor e produtor de "Mães em Luta".
Os dois assinam juntos o roteiro, que trata da relação de duas mães com filhos ligados ao IRA. Haviam também escrito em parceria "Em Nome do Pai", dirigido por Sheridan (leia texto abaixo).
George explica por que seus filmes distam da produção típica de seu país: "O filme irlandês é idiossicrático."
Sheridan expande a crítica para o continente: "Os cineastas europeus filmam como se estivessem fazendo terapia. Produzem fitas de cinco horas quando poderiam chegar mais rapidamente ao ponto. Não respeitam a falta de tempo do espectador."
"Minha formação se deu assistindo a filmes norte-americanos. Os únicos europeus que vi com maior frequência foram os italianos."
"Nosso compromisso é com o entretenimento, cinema tem a ver com traseiros na cadeira", finaliza o diretor de "Mães em Luta".
Apesar do longo e empolgado raciocínio, na prática a dupla não adota totalmente essa política.
Critica a seguir a dominação absoluta do cinema dos EUA e a imposição do inglês como uma espécie de língua oficial da arte -"é a maior vedete de nossos filmes", exemplifica George. Sheridan faz também consideração sobre a necessidade de se criar um sistema de distribuição independente.
A dupla escolheu, além disso, retratar em "Em Nome do Pai" e "Mães em Luta" a relação conflituosa entre irlandeses e ingleses, tema bastante regional. "Nosso objetivo, porém, é tentar sermos universais", diz George.
Essa universalidade seria conferida, ainda segundo o diretor, pelos dramas familiares que conduzem a trama dos dois filmes.
A história -verídica- em questão se presta bem à função dupla de contemplar a questão política e as relações dentro da família.
Uma das mães do título é pacifista, a outra, adepta da luta armada contra os ingleses. Ambas se encontram quando seus filhos -em protesto contra os ingleses- entram em greve de fome.
"No final, as decisões se revestem de um caráter pessoal, não político", conta George. "É isso que dá à história as proporções de uma tragédia grega."
Sobre a situação política na Irlanda do Norte, ambos concordam que o melhor seria que as duas partes se sentassem para conversar e chegassem a um acordo. "Eu sou de opinião que os ingleses deveriam deixar o país", diz George.

Filme: Mães em Luta
De: Terry George
Onde: hoje, às 20h40, no Masp

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