São Paulo, quarta-feira, 23 de outubro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cunha mostra 'memória da infância'

CASSIANO MACHADO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

As telas e cartões que Chico Cunha expõe a partir de hoje, na Galeria São Paulo, foram construídas, segundo ele, de acordo com uma "geografia da memória".
O artista carioca, que, a exemplo de grande parte dos membros bem-sucedidos da geração 80, estudou na escola de artes visuais do parque Lage, parte das reminiscências da infância para delinear figuras humanas diminutas "vagando" em quadros de grandes proporções.
Cunha explica que cada tela é como um universo, em que o artista delimita espaços, planos sucessivos.
Sua marcação espacial segue a trilha percorrida por Alberto Guignard (1896-1962), com o "mesmo tipo de espaço entre o plano e a perspectiva".
Homenzinhos
O modo como os personagens "voam", outra citação de Guignard, remete a um cenário fluido, característica presente nos quadros anteriores aos expostos, todos realizados este ano.
Sua figuração mínima, com "homenzinhos" que passeiam em suas pinturas, lembra as proporções das telas de cinema.
Os filmes, sobretudo películas como "Limite" (1930), de Mário Peixoto, base de uma de suas obras, fazem parte do seu caldeirão temático.
Os "ex-votos" mexicanos, pequenos quadros de temática religiosa, se assemelham às suas obras pela "simplicidade de suas narrativas".
Como disse o crítico Lauro Cavalcanti, em catálogo de uma exposição do artista na Venezuela, Cunha é uma espécie de narrador para o qual não importa muito a história, mas o jeito, recursos e embaraços para narrá-la".
Tanto é verdade que nunca deu título a seus trabalhos, "para não obrigar o observador a seguir um caminho".
Desenhos
Nas pinturas do artista, que ele prefere chamar de desenhos, importa menos o fundo, quase sempre em tonalidades uniformes, do que a pontuação de poucos e pequenos elementos.
A cor também não preocupa Cunha, que, muitas vezes, opta pelo branco como pano de fundo para as telas "geográficas" que faz no ateliê da Glória, no Rio de Janeiro.
No vazio, o artista encontra o espaço adequado para explorar suas reminiscências. Resgata elementos pessoais, base da "geografia da memória".
(CEM)

Exposição: Chico Cunha - Pinturas
Vernissage: hoje, a partir das 21h
Quando: das 10h às 22h; até 17 de novembro
Onde: Galeria São Paulo (r. Estados Unidos, 1.456, tel. 011/852-8855)
Preços das obras: de R$ 600 a R$ 5.200

Texto Anterior: Oswaldinho toca acordeão na hora do rush
Próximo Texto: Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.