São Paulo, quarta-feira, 23 de outubro de 1996
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POLÍTICOS PARA SI MESMOS

Mais uma vez, uma parcela significativa de políticos no Congresso Nacional dá motivos para que a sociedade sinta-se indignada. Reportagem da Folha publicada ontem mostra que deputados e senadores pretendem manter privilégios na votação da reforma constitucional.
Pior, o próprio governo já contempla a criação de uma regra especial para liberar a acumulação de aposentadorias e vencimentos, superando o teto de vencimentos de R$ 10,8 mil previsto na reforma administrativa e que passaria a valer para funcionários, digamos, "normais".
Políticos, em princípio, deveriam dedicar-se a representar interesses coletivos e mesmo nacionais. O que se vê, como ocorreu na manutenção do absurdo privilégio do IPC (Instituto de Previdência dos Congressistas), é mais um exemplo de desavergonhada legislação em causa própria.
A "blitz" em defesa de privilégios conta com uma linha de frente: são os 141 deputados que acumulam os vencimentos da Câmara com aposentadorias. Outros parlamentares, entretanto, certamente devem engrossar as fileiras de bom grado, como se viu também no episódio do IPC. À vanguarda egoísta corresponde uma retaguarda oportunista.
O governo federal, de outro lado, atribui tamanha importância à quebra da estabilidade do funcionalismo que parece disposto a qualquer concessão em nome do objetivo maior. A prevalecer esse "toma lá, dá cá", nesta e em outras questões, caberá a dúvida legítima, já não apenas sobre os princípios éticos mínimos, mas sobre a própria eficiência financeira e operacional de todo o esforço para mudar a estrutura do Estado e eliminar privilégios corporativos.
Políticos não foram feitos para servir a si mesmos, mas infelizmente essa conduta ainda aparece com frequência, no atacado ou no varejo, tanto na negociação de grandes temas quanto no "é dando que se recebe" mais cotidiano e comezinho.

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