São Paulo, quinta-feira, 24 de outubro de 1996
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Carlinhos protege Erundina dos fãs

'É complicado, porque ela é amada e odiada'

DA REPORTAGEM LOCAL

Abraços de urso, beijos rotundos, agarrões, empurrões. Carlos Roberto Manastelli, 38, não tira o olho de Luiza Erundina e das pessoas que se aproximam dela.
Ele é uma das "sombras" da candidata do PT à Prefeitura de São Paulo. "Fico preocupado, mas é emocionante", diz Carlinhos, como é chamado pelos seus colegas.
Pelo tipo de relação que tem com o público, Luiza Erundina é o pesadelo de qualquer equipe de segurança. Sempre no meio de um ajuntamento -sabe-se onde está porque fica um espaço vazio acima dela-, a petista, de 1,55m de altura, dá trabalho.
Quando alguém chega perto de Erundina, Carlinhos e seus colegas vivem momentos de tensão.
Sucrilho e rapadura
"Há alguns fãs mais entusiasmados que a agarram. Outro dia, o dono de uma barraca de pastel e caldo-de-cana em Santo Amaro abraçou-a com tanta vontade que saiu no jornal que ela tinha sido agredida. O homem nos procurou para pedir desculpas por ter causado um mal-entendido."
Quando o entusiasmo é excessivo, a intervenção dos seguranças é discreta, amável.
"Agimos no sentido de proteger Erundina e não de repelir as pessoas. É complicado, porque ela é amada e odiada e fica vulnerável", explica.
Carlinhos acompanha o ritmo da chefe, mas, às vezes, mostra sinais de cansaço. "Ela brinca e diz que nós somos da geração tratada a sucrilho e danoninho e que ela é do tempo da rapadura."
Misto de segurança e motorista, Carlinhos acompanha a candidata do PT a todos os compromissos.
44 horas "no ar"
Sua vida é a da chefe: come quando ela come, descansa quando ela descansa. Na semana passada, ficou 44 horas seguidas "no ar".
As chances de repouso são raras: "De janeiro até agora, não passei um final de semana com minha família", diz Carlinhos, sem traço de queixa na voz. Tantas são suas atividades que ele confessa não se lembrar do que fez ontem. Pode aproveitar uma hora de folga à tarde para ir para casa tomar banho.
Militante do PT desde 1985, filiado na Mooca (zona leste), Carlinhos foi motorista do vereador petista Adriano Diogo. Diogo apresentou-o a Erundina. No começo, dirigiu para ela, esporadicamente.
Carlinhos diz que fez cursos de defesa pessoal e tiro, mas afirma que nem ele nem seus colegas carregam armas.
Quanto ganha por seu trabalho? "Mais do que preciso e menos do que mereço", disfarça.

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