São Paulo, quinta-feira, 24 de outubro de 1996
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Mandingas guiam filme sobre Murnau

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA

Em 1929, o diretor alemão F.W. Murnau vai à Polinésia para filmar "Tabu", que fica pronto em 1931 e se torna um grande clássico do cinema.
Murnau não chega a assistir à estréia do filme. Morre, pouco antes, em um acidente automobilístico.
Os dois fatos levaram o francês Yves de Peretti a fazer o documentário "Tabu: a Última Viagem".
A história contada por Murnau é a de uma virgem que, após ser consagrada, se torna tabu -intocável por qualquer homem. Mas ela e um jovem se apaixonam e desafiam a maldição.
Peretti acredita -como os polinésios- que ao filmar essa história Murnau também estava infringindo o tabu. Daí sua morte.
É uma questão de fé, não de fato, portanto indiscutível, de certa maneira. Mas não será demais dizer que Murnau não buscava exotismos ao filmar naquele lugar, e sim um lugar e uma cultura propícios a expressar a sensualidade dos corpos e da natureza.
Peretti, ao contrário, tenta extrair daí um fluxo incessante de exotismo.
Acreditará ele nessas superstições? Tanto faz. Como tudo que diz respeito ao além, pode-se especular com tudo sem chegar a nada muito conclusivo. O importante, para Peretti, parece ser construir um quebra-cabeça místico.
O mérito essencial do filme é retomar algumas imagens de "Tabu", um filme que ia no sentido inverso: afirmava o primado da natureza e da sensualidade, contra a repressão da cultura.
Em "Tabu", Murnau atribui mais beleza aos jovens amantes que desafiam o interdito do que a tudo mais.
Em "Tabu: a Última Viagem", ao contrário, mandingas e maldições são reentronizadas como fonte de conhecimento -contra o corpo.
Resumindo, é no início, onde trata da associação e do posterior desentendimento entre Murnau e Robert Flaherty, que está o mais interessante no filme.

Filme: Tabu: a Última Viagem
Quando: hoje, às 20h20, na Sala Cinemateca

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