São Paulo, quinta-feira, 24 de outubro de 1996 |
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Mandingas guiam filme sobre Murnau
INÁCIO ARAUJO
Murnau não chega a assistir à estréia do filme. Morre, pouco antes, em um acidente automobilístico. Os dois fatos levaram o francês Yves de Peretti a fazer o documentário "Tabu: a Última Viagem". A história contada por Murnau é a de uma virgem que, após ser consagrada, se torna tabu -intocável por qualquer homem. Mas ela e um jovem se apaixonam e desafiam a maldição. Peretti acredita -como os polinésios- que ao filmar essa história Murnau também estava infringindo o tabu. Daí sua morte. É uma questão de fé, não de fato, portanto indiscutível, de certa maneira. Mas não será demais dizer que Murnau não buscava exotismos ao filmar naquele lugar, e sim um lugar e uma cultura propícios a expressar a sensualidade dos corpos e da natureza. Peretti, ao contrário, tenta extrair daí um fluxo incessante de exotismo. Acreditará ele nessas superstições? Tanto faz. Como tudo que diz respeito ao além, pode-se especular com tudo sem chegar a nada muito conclusivo. O importante, para Peretti, parece ser construir um quebra-cabeça místico. O mérito essencial do filme é retomar algumas imagens de "Tabu", um filme que ia no sentido inverso: afirmava o primado da natureza e da sensualidade, contra a repressão da cultura. Em "Tabu", Murnau atribui mais beleza aos jovens amantes que desafiam o interdito do que a tudo mais. Em "Tabu: a Última Viagem", ao contrário, mandingas e maldições são reentronizadas como fonte de conhecimento -contra o corpo. Resumindo, é no início, onde trata da associação e do posterior desentendimento entre Murnau e Robert Flaherty, que está o mais interessante no filme. Filme: Tabu: a Última Viagem Quando: hoje, às 20h20, na Sala Cinemateca Texto Anterior: HISTÓRIA DE H Próximo Texto: 'Caçadores' conta história da desilusão Índice |
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