São Paulo, quinta-feira, 24 de outubro de 1996
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'Caçadores' conta história da desilusão

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O documentário "Caçadores de Utopias", de David Blaustein, cumpre na Argentina de hoje o mesmo papel catártico para as esquerdas que o belo "Jango" (1984), de Sílvio Tendler, no Brasil da abertura.
Blaustein, 43, não elegeu um protagonista único, ainda que Juan Domingos Perón (1895-1974) seja a referência central.
Reconstitui-se aqui a trajetória de uma geração de militantes políticos dos anos 60-70, com o grupo radical "montoneros" em foco.
Quase meio século da história argentina é sintetizada nos 145 minutos de projeção, extraídos de um material bruto de 80 horas.
Feito para o país acertar as contas com seu passado, o filme não se preocupa com o didatismo, renunciando a certo detalhamento histórico.
O que se vê é uma crônica de violência e despotismo comum à América Latina do pós-guerra, com a identificação cobrindo lacunas e elipses de forma a possibilitar que o processo seja acompanhado sem maiores problemas.
Essa economia se expressa sobretudo pela uso parcimonioso que Blaustein faz do material de arquivo. "Caçadores de Utopias" privilegia a história oral do período, dando voz ao amplo espectro social de militantes, sobretudo da esquerda da época.
O engajamento, as ilusões, a opção pela luta armada em fins dos anos 60 e início dos 70, a tortura e os "desaparecimentos" sob o regime militar (1976-1983) e a redemocratização são contados em 34 depoimentos.
"Caçadores de Utopias" não se pretende um filme-manifesto, mas sim uma obra de balanço intelectual e emotivo.
Seu maior triunfo é recriar a atmosfera de um período, nem tão distante, em que jovens idealistas preocupavam-se mais com o futuro de seu país do que com o sucesso de suas carreiras. Chore, sim, por ti Argentina, pois teu choro é de todos nós.

Filme: Caçadores de Utopias
Direção: David Blaustein
Onde: hoje, às 17h40, no Centro Cultural São Paulo

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