São Paulo, quinta-feira, 24 de outubro de 1996 |
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'Caçadores' conta história da desilusão
AMIR LABAKI
Blaustein, 43, não elegeu um protagonista único, ainda que Juan Domingos Perón (1895-1974) seja a referência central. Reconstitui-se aqui a trajetória de uma geração de militantes políticos dos anos 60-70, com o grupo radical "montoneros" em foco. Quase meio século da história argentina é sintetizada nos 145 minutos de projeção, extraídos de um material bruto de 80 horas. Feito para o país acertar as contas com seu passado, o filme não se preocupa com o didatismo, renunciando a certo detalhamento histórico. O que se vê é uma crônica de violência e despotismo comum à América Latina do pós-guerra, com a identificação cobrindo lacunas e elipses de forma a possibilitar que o processo seja acompanhado sem maiores problemas. Essa economia se expressa sobretudo pela uso parcimonioso que Blaustein faz do material de arquivo. "Caçadores de Utopias" privilegia a história oral do período, dando voz ao amplo espectro social de militantes, sobretudo da esquerda da época. O engajamento, as ilusões, a opção pela luta armada em fins dos anos 60 e início dos 70, a tortura e os "desaparecimentos" sob o regime militar (1976-1983) e a redemocratização são contados em 34 depoimentos. "Caçadores de Utopias" não se pretende um filme-manifesto, mas sim uma obra de balanço intelectual e emotivo. Seu maior triunfo é recriar a atmosfera de um período, nem tão distante, em que jovens idealistas preocupavam-se mais com o futuro de seu país do que com o sucesso de suas carreiras. Chore, sim, por ti Argentina, pois teu choro é de todos nós. Filme: Caçadores de Utopias Direção: David Blaustein Onde: hoje, às 17h40, no Centro Cultural São Paulo Texto Anterior: Mandingas guiam filme sobre Murnau Próximo Texto: Documentarista brasileira incorpora elementos de ficção Índice |
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