São Paulo, sexta-feira, 25 de outubro de 1996
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Pesquisadores trocam insultos

RICARDO BONALUME NETO
DO ENVIADO ESPECIAL A CAXAMBU (MG)

Um debate sobre a política oficial de bolsas de estudo anteontem à noite desviou-se para uma discussão sobre a universidade e terminou depois que alguns participantes passaram a trocar insultos.
"A discussão passou para um patamar de agressividade e desrespeito", disse, encerrando o debate, o sociólogo Antônio Flávio Pierucci, que presidia a mesa.
O tema do fórum era "Mestrandos e Doutorandos: Realidade e Políticas Oficiais de Bolsas".
Marisa Cassim, diretora de desenvolvimento científico e tecnológico do CNPq, comentou a política de bolsas do órgão e a tentativa de usar as avaliações que faz da comunidade científica há 40 anos para auxiliar na alocação de recursos.
Jacques Velloso, da UnB, mostrou uma pesquisa sobre o perfil dos bolsistas, comentando como o cientista brasileiro se forma com idade mais avançada que a ideal. O físico José Fernando Perez, diretor científico da Fapesp, e o filósofo José Arthur Giannotti, presidente do Cebrap, comentaram os dados.
Perez ressaltou a demora na formação, argumentando que o ideal seria um mestrado que não durasse mais de dois anos, e quatro ou cinco anos para um doutorado.
Ele usou uma frase que ofendeu parte da platéia -"Pesquisador velho é como pesquisador morto"-, querendo dizer que cientistas formados tarde, com quase 40 anos, seriam menos produtivos.
Giannotti comentou que, apesar de o sistema de pós-graduação ser vigoroso, ele tem problemas sérios que não estariam sendo enfrentados. "As bolsas estão sendo dadas mais por inércia do que por processo sério de avaliação", disse ele.
Os comentários fizeram com que o sociólogo da Unicamp Octávio Ianni se insurgisse contra o que chamou de "discurso tecnocrático". Ianni foi aplaudido intensamente pelo auditório lotado de professores e bolsistas.
Giannotti respondeu que Ianni estava fazendo uma "operação ideológica". "Gostaria que esta ilustre assembléia fosse menos vulnerável à demagogia." Pierucci encerrou o debate após uma professora perguntar a Perez se "burocrata velho também é burocrata morto".
(RBN)

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