São Paulo, sexta-feira, 25 de outubro de 1996
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Instalação costura homens e Jesus Cristo

CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O ato de unir pessoas comuns a Jesus Cristo perde sua conotação religiosa e ética para assumir um caráter estético nas mãos da fotógrafa Cris Bierrenbach e da artista Adriana Vaz Ramos. As duas realizam hoje, às 19h, na sala Mário Schenberg da Funarte-SP, o vernissage de sua instalação-workshop "Acheiropoietol - Imagens Verdadeiras".
O nome requer uma explicação. "Acheiropoietol" é um termo grego usado para caracterizar imagens realizadas sem o contato das mãos. Uma delas é o ponto de partida do trabalho da dupla: o sudário de Cristo.
Bierrenbach parte do conceito desse que é um dos mais importantes ícones do imaginário cristão para realizar uma infinidade de reproduções em tecido de várias versões do rosto de Cristo.
Para isso, a fotógrafa volta no tempo -ao século 19- para resgatar uma técnica dos primórdios da fotografia. Cris umedece um pedaço de tecido com bicromato de amônia, goma arábica e tinta de aquarela para que ele fique sensível à luz e registre a imagem de Cristo, impressa anteriormente em uma lâmina transparente.
Adriana, por sua vez, utiliza a tecnologia dos computadores para imprimir o rosto dos visitantes nos sudários.
Primeiro, fotografa-os com uma câmera ligada a um computador. A imagem é digitalizada e depois impressa em uma lâmina plástica transparente. A imagem será em seguida decalcada em um pedaço de pano umedecido com água.
Cristos e homens serão então unidos em um único e enorme sudário, que será fixado no teto e descerá como um manto. Ao todo, serão usados cerca de 2.000 retalhos de tecido.
"O trabalho não está ligado aos dogmas da Igreja, mas sim às muitas simbologias da representação da figura humana em sudários", diz Adriana. É a união de processos rudimentares de fotografia a outros altamente tecnológicos para a produção de imagens.
Foto e religião
A fotografia tem pontos de conexão com a simbologia religiosa. Ela surge -assim como o sudário- como um milagre, sem o contato com a mão humana. Também surge a partir do contato com uma luz, uma iluminação. "O sudário pode ser visto como a primeira fotografia", diz Bierrenbach.
Para se materializar a partir da luz, a fotografia deve passar ainda, entre outros processos, por uma revelação e um banho (um tipo de batismo, em que um processo se interrompe e dá início a um outro). Por fim, a fotografia funciona como prova de um fato ou de uma identidade, assim como o sudário, que foi usado como a prova da existência de Cristo.
Mesmo os fios vermelhos usados na costura dos novos sudários, que poderiam aludir à cor do sangue, remetem à mitologia religiosa de maneira mais direta. Ao receber a anunciação, Maria estaria tecendo com um fio vermelho.
O vernissage hoje será marcado ainda pela apresentação de música medieval com Fernando Carvalhaes e grupo. Amanhã, às 14h, o professor universitário Fernando Segolin (PUC-SP) fará uma palestra com o tema "O Mito e o Herói: do Caos ao Cosmos e do Cosmos ao Caos". Às 16h será a vez da bailarina Renata Melo apresentar o workshop coreográfico "Ave Maria", também com a participação do público.
Os interessados podem ainda participar da instalação por meio de um site na Internet (http://www.uol.com.br/roteiro/acheiro). Ali o interessado poderá depositar imagens de Cristo e de si próprio para a inclusão no manto.

Instalação: Acheiropoietol: Imagens Verdadeiras
Artistas: Adriana Vaz Ramos e Cris Bierrenbach
Onde: Sala Mario Schenberg - Funarte-SP (al. Nothmann, 1.058, Campos Elíseos)
Quando: até 7 de novembro (as artistas estarão desenvolvendo o trabalho no local nas quintas e sextas, das 17h às 20h; e nos sábados e domingos, das 14h às 18h
Entrada: franca

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