São Paulo, sábado, 26 de outubro de 1996
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Libertado 'recupera sono' após 32 dias

'Não dá para dormir acusado de 3 mortes', diz Silva

DA REPORTAGEM LOCAL E DO NP

A primeira preocupação do repositor Valmir Vieira Martins, 20, ao sair da cadeia foi saber se continuava empregado. Antes de ser preso, ele trabalhava no supermercado Eldorado da Rebouças e ganhava R$ 260 por mês.
Ontem à tarde, ele foi até o supermercado para avisar que voltaria ao trabalho. Ele diz querer esquecer os dois meses de prisão.
A irmã dele, Valdereis Ruas Martins, 19, disse que sempre confiou na inocência do irmão. "Quando a polícia veio prendê-lo, ele estava na feira, e eu fui buscá-lo. Se devesse algo para alguém, ele poderia ter fugido."
32 dias sem dormir
Marcelo da Silva, 24, disse ontem que conseguiu dormir "pela primeira vez depois de 32 dias". "Não dá para dormir sendo acusado de três mortes", disse.
Marcelo era o único dos sete libertados com passagem pela polícia. Ele havia cumprido quatro anos de prisão e estava havia dois meses em regime de prisão albergue quando foi preso.
Ele voltou ontem a acusar o delegado João Lopes, do 15º DP, de torturá-los para conseguir a confissão do crime. "O doutor João ficava dizendo: 'vocês não vão aguentar, eu vou mandar pendurar vocês (no pau-de-arara)'."
Marcelo disse ainda que os exames de corpo de delito pelos quais passaram no Instituto Médico Legal eram "fajutos".
"O médico nem toca em ninguém, só pergunta se estamos machucados, mas não dá para falar nada com os mesmos investigadores que bateram olhando feio do nosso lado", disse.
Marcelo diz não conseguir esconder a revolta. "Mas quem sou eu para falar contra um doutor, delegado titular?"

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