São Paulo, sábado, 26 de outubro de 1996
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SANGRANDO O PAÍS

A repetição de um substancial déficit nas contas federais no mês de setembro mostra, acima de tudo, a dificuldade do governo com a dívida pública. É verdade que os juros caíram muito, mas, em contrapartida, cresceu bastante o estoque da dívida.
Taxas de juros menores incidindo sobre uma dívida maior acabam por onerar o caixa da mesma maneira.
Que o grande nó é o da dívida fica evidente pelo fato de que o resultado primário (receitas menos despesas) foi positivo. As contas só ficam deficitárias depois que são computados os gastos financeiros.
Segundo boletim do Ministério da Fazenda divulgado anteontem, a União obteve um superávit primário de R$ 3,3 bilhões em 95. Mas pagou R$ 14,6 bilhões de juros reais, resultando no déficit operacional de R$ 11,3 bilhões. Os números dos nove primeiros meses deste ano têm comportamento muito similar.
Não basta, no entanto, lamentar tal situação, até porque seria repetitivo. O importante é assinalar que um déficit público elevado tem duas consequências negativas para o país.
A primeira é óbvia: déficits tendem a servir de combustível para realimentar a inflação, ainda que a médio ou longo prazo. A segunda consequência, apesar de menos óbvia, não é menos importante: o fato de o governo contribuir para sangrar a poupança interna, em vez de aumentá-la, afeta o crescimento econômico.
O cálculo mais aceito pelos economistas é o de que o país necessita de uma poupança total equivalente a cerca de 23% de seu PIB (Produto Interno Bruto) para sustentar um crescimento anual em torno de 6%.
A poupança privada e a poupança externa mal chegam hoje a 20% do PIB. Logo, o governo teria de contribuir com os 3% restantes, mas está fazendo justamente o inverso. Corrigir esse desequilíbrio é, pois, requisito essencial para os dois lados mais importantes da equação econômica e social: inflação e crescimento.

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