São Paulo, sábado, 26 de outubro de 1996
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NOVA TRAGÉDIA

Mais um escandaloso exemplo de descaso com a saúde pública é registrado no país, dessa vez em uma maternidade da região Norte. Em um curto período de 20 dias, 32 bebês, nascidos ou internados no Hospital Materno-Infantil Nossa Senhora de Nazaré, em Boa Vista (RR), morreram no hospital devido a causas ainda não esclarecidas.
Para as equipes que investigam o caso, os bebês teriam morrido de infecção hospitalar. A constatação se torna ainda mais grave quando se sabe que a maternidade em questão não só é a única opção pública para os habitantes de Roraima como também é responsável por 98% dos partos hospitalares de todo o Estado.
Não é novidade a situação de calamidade do sistema público de saúde do país. Ainda estão frescos na memória dos brasileiros episódios como o das mortes em sessões de hemodiálise no Instituto de Doenças Renais de Caruaru (PE).
Durante este ano, o governo federal concentrou esforços na CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), que, depois de aprovada no Congresso e confirmada na Justiça, deve ser cobrada a partir de janeiro. Serão cerca de R$ 400 milhões mensais, a serem repassados ao Fundo Nacional de Saúde.
Os recursos proporcionados pela CPMF serão importantes, mas não terão valor se procedimentos médicos, condições de higiene e formas de gerenciamento dos próprios recursos não forem aprimorados para garantir um sistema de saúde que satisfaça as necessidades básicas da população mais carente.
As mortes dos bebês de Roraima devem ser investigadas, e os responsáveis, punidos. Mas é o momento de perguntar quantas tragédias serão necessárias até que medidas concretas para melhorar o sistema de saúde sejam de fato tomadas. Recursos estão sendo providenciados, a um alto custo para toda a sociedade. O que se espera agora é que o governo, que tanto destaque deu às suas limitações financeiras, cumpra a sua parte.

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