São Paulo, sábado, 26 de outubro de 1996
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Freio nos "global bonds"

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Não poderia haver momento pior para o governo tentar vender títulos no exterior.
O Banco Central sabe disso. E estaria para rever os seus planos. Até que o cenário fique mais favorável.
Hoje, o lucro não seria considerado o ideal. A conjuntura não ajuda.
A emenda da reeleição está embananada. O plano inicial de votação em dezembro teve de ser atrasado para janeiro. Depois, fevereiro. Agora, março parece ser a data mais provável.
As contas externas passam por um período de provação. O déficit comercial de setembro foi gigantesco. Para outubro, já é um lugar-comum falar em um déficit perto de US$ 1 bilhão.
Enfim, o ar está cheio de incertezas. Em Brasília, a ordem unida dentro da equipe econômica é vender uma noção de que tudo está sob controle.
Nessa estratégia se encaixa o discurso de que déficit comercial não é essencialmente maléfico. Pode ser financiado. Será coberto com os bilhões que entrarão com a venda de estatais. E com os outros tantos bilhões que empresas estrangeiras prometem trazer para construir fábricas no Brasil.
Só que a venda de estatais e os investimentos estrangeiros não podem ser dados como certos até que tenham ocorrido de fato.
Aliás, do jeito que as coisas estão hoje, é um tiro no escuro apostar num cenário otimista.
É certo que a situação está longe de uma crise generalizada. A inflação continua firme para baixo. E tudo indica que um pouco de fisiologismo tucano arrancará a emenda da reeleição do Congresso.
Sobre o déficit comercial, com um cenário político favorável, é possível que FHC faça mesmo uma liquidação de estatais. E o dinheiro externo construa suas fábricas em solo brasileiro.
Mas o BC certamente vai preferir esperar um pouco antes de lançar os tais US$ 750 milhões de "global bonds".
O plano era vender os papéis no final deste mês ou no início de novembro. Ninguém deve se assustar se a operação for transferida para o primeiro trimestre de 97.

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