São Paulo, sábado, 26 de outubro de 1996
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Um crime oficial

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Albertina Dias Café e Alves não é policial nem jurista nem política. Mas produziu a mais perfeita análise do escândalo desatado pela libertação dos acusados pelo crime do bar Bodega, em que dois jovens de classe média foram mortos por assaltantes, sendo um deles a sobrinha de Albertina.
"Estou agora um pouco mais desesperada do que estava antes com a falta de segurança", reagiu Albertina. E explicou por quê: ou errou a Justiça, ao determinar a libertação dos acusados, por falta de provas e suspeita de torturas, ou errou a polícia, ao prender as pessoas erradas e, ainda por cima, torturá-las para que confessassem.
Diagnóstico perfeito. Segurança pública envolve o binônio polícia/Justiça, como é óbvio. O caso do Bodega mostra claramente que uma das duas pernas do binômio não funcionou e é altamente improvável que se trate de episódio isolado.
Talvez tenha ganho cores de escândalo porque o crime envolveu pessoas de classe média alta. Mas o lógico é supor que, nos inúmeros crimes anônimos que ocorrem diariamente na cidade, ou a polícia não chega aos culpados ou, quando chega, a Justiça não consegue condená-los.
Sem mencionar o fato de que não há onde colocar os eventuais condenados, ante a evidente falência do sistema previdenciário.
A consequência inevitável é a que expôs Albertina: aumenta a sensação de insegurança.
O governo do Estado é bem capaz de reagir, de novo, com a exibição de estatísticas para provar que a situação hoje não é muito pior do que era antes da posse de Mário Covas. É um enfoque absurdo: o problema não é piorar pouco, é melhorar muito, porque a crise da segurança é dramática já faz tempo.
A verdade é que, das muitas reformas de que o país necessita, a da segurança/Justiça é uma das mais importantes, mas nem por isso entrou na agenda das autoridades, federais ou estaduais.

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