São Paulo, domingo, 27 de outubro de 1996
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Trabalho é coisa de 'imbecil'

DA AGÊNCIA FOLHA, NO SERTÃO DO ARARIPE

O presidente do Sindicato dos Empresários do Gesso de Pernambuco, Josias Inojosa, admitiu que "pode haver" casos de adolescentes e crianças trabalhando em empresas do setor no sertão do Araripe, no extremo oeste pernambucano.
Inojosa disse que "isso é coisa de alguns empresários que são imbecis". Segundo ele, o setor não teria triplicado sua produção nos últimos 11 anos caso estivesse crescendo de maneira desordenada.
"A grande maioria dos empresários do gesso da região é coerente e sensível aos problemas sociais e não aceita o trabalho de criança. Temos as maiores empresas de cimento e gesso do país e do mundo instaladas na região e, com certeza, essas são cumpridoras das leis", afirmou.
Os produtores de gesso do Sertão do Araripe conseguiram, por meio de influência do vice-presidente Marco Maciel, que o governo federal taxasse a importação de gipsita. O imposto, que era de 6%, passou a ser de 56%, até o ano 2000.
Com isso, os produtores locais pretendem conquistar também o Mercosul (Mercado Comum do Sul) e planejam aumentar a produção de 1,2 milhão de toneladas de gesso por ano para 5 milhões de toneladas, nos próximos quatro anos. O curador da Infância e da Adolescência de Araripina, Francisco Cruz Rosa, 34, afirmou que é impossível punir exploradores de trabalho infantil na região, porque os governos federal e estadual não possuem centros de assistência especializados.
Segundo Cruz Rosa, pais que submetem seus filhos a trabalhos penosos poderiam ser punidos com a suspensão do poder pátrio. Segundo ele, a lei não pode ser aplicada porque o Estado não mantém na região do Araripe centros especializados de guarda das crianças.
"Tenho reiterado pedidos de colaboração do Conselho Municipal da Infância e da Adolescência no sentido de que encaminhem e procurem denúncias ao Ministério Público", afirmou.

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