São Paulo, domingo, 27 de outubro de 1996
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Cassino Brasil

JANIO DE FREITAS

Os jogos de azar continuam legalmente proibidos, mas livres e bancados, sobretudo, por entidades oficiais ou oficiosas. A Caixa Econômica Federal é, antes de mais nada, um grande cassino, explorando a aposta em números impressos tão caracterizável como jogo de azar quanto, entre muitas outras, a aposta nos números da roleta. O exemplo do governo federal foi bem seguido pelos governos estaduais, daí resultando que o Estado é o maior dos contraventores. O que talvez explique a semelhança de tantos dos seus representantes com os contraventores mais conhecidos como banqueiros do bicho.
Várias TVs e rádios, sendo todas sempre fiéis aos rumos governamentais, adotaram o jogo, com diferentes sistemas de apostas, e hoje são verdadeiros cassinos eletrônicos. Com um agravante: põem o cassino dentro das casas, ainda que os espectadores queiram ver apenas um joguinho de futebol. E com isso criam a oportunidade de faturar, não só com os incautos de sempre, mas até com apostas telefônicas de crianças seduzidas pela insistente proposta de ganhar um carrão. A criança topa tudo, não papa nada e os pais pagam os telefonemas extorsivos.
Há pouco foi divulgado o interesse da Confederação Brasileira de Futebol, a CBF já rica como ela só, em espalhar pelo Rio uma rede de máquinas de videoloteria. Uma rede de cassininhos, que não é outra coisa, a ser estendida a outras capitais populosas. E agora o Comitê Olímpico Brasileiro quer instalar centenas de máquinas de jogo a dinheiro nos lugares cariocas com frequência pública.
Mas o jogo continua legalmente proibido -como convém que seja, mesmo.
Mais um provão
A inteligência de governantes é muito peculiar. O economista Paulo Renato Souza, por exemplo, usou o seu título de ministro da Educação para instituir o tal provão, o exame extra-escolar para avaliação dos cursos, mas não dos alunos. Tomado agora de furor ministerial, porque a UNE faz campanha contra o comparecimento, Paulo Renato diz que quem faltar ao provão não receberá o diploma de formatura.
Que ótimo general-ministro da ditadura teria dado este economista que, só pode ter sido por equívoco, frequentou a oposição à ditadura. Sua ameaça não tem base legal. E nem mesmo o ato que instituiu o provão, com a assinatura do próprio Paulo Renato Souza, pretendeu vinculá-lo à diplomação.
Vá lá que um ocupante do cargo de ministro não tenha idéia, vaga embora, do princípio geral das leis do seu país e nem mesmo dos condicionamentos legais do seu cargo. Mas, até prova em contrário, não custaria pensar um segundo sobre seus próprios atos, para não dar tamancadas mentais. A menos que o ímpeto de distribuir tamancadas se torne liberado com a suposição de poder dada pelo cargo efêmero e barato de ministro.
É disso que Paulo Renato dá mais um provão.
Sugestão do governo
Até que enfim chegou a vez dos coroas. Com a extinção, por Fernando Henrique Cardoso, das obrigações da empresa em benefício dos empregados que se aposentem, o melhor para os empregadores é preencher vagas com assalariados mais velhos. Ou seja, mais próximos da aposentadoria: a eventual redução da mão-de-obra e sua rotatividade normal ficarão, ambas, a custo zero ou próxima disso. A entrada dos jovens no chamado mercado de trabalho já era difícil. Com as medidas do governo, as já adotadas e as prováveis, vai ficar muito pior. Mas a a criminalidade está criando cada vez mais formas de prover a sobrevivência.

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