São Paulo, domingo, 27 de outubro de 1996 |
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Demora do ajuste fiscal explica a instabilidade
LÚCIA MARTINS
O déficit, o pior num mês desde abril, acentuou o mal-estar dos agentes econômicos quanto à promessa do governo de reduzir pela metade o saldo negativo nas contas públicas da União este ano. "O governo falou em reduzir o déficit operacional de 5% para 2,5% do PIB este ano, mas já revisou a cifra para 3,5%. Achamos que será de 4,5% a 5%", reclama o economista Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores. Para ele, embora os indicadores econômicos sejam positivos para 1997, a falta do ajuste fiscal é um peso nas possibilidades de crescimento do país nos próximos anos. Para o diretor do Banco Central, Gustavo Franco -ferrenho guardião da moeda nacional-, coisas desagradáveis acontecem, mesmo nas melhores famílias. "Estamos dirigindo um transatlântico com competência, mas tempestades acontecem", comentou Franco, durante passagem por Londres na semana passada. Cláudio Haddad, diretor do Banco Garantia, afirma que esses solavancos são normais nessa fase do plano de estabilização. "Até que o ajuste fiscal seja feito em definitivo, passarem as reformas econômicas e a questão da reeleição ficar mais clara, conviveremos com notícias boas e ruins ao mesmo tempo", diz Haddad. O economista Raul Velloso acha que não há motivos para maiores preocupações nesse "front". O estouro do déficit em setembro foi causado por uma antecipação de recursos à Saúde de R$ 1,2 bilhão -um fato que acontece todos os anos nessa época, explica Velloso. Para ele, a situação das contas públicas deve melhorar bastante no biênio 1996/1997. Primeiro, a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), que adicionará R$ 5 bilhões nos cofres do Ministério da Saúde, aliviando os gastos do governo. Depois, haverá outros ganhos fiscais de ordem tributária e operacional, por conta de medidas tomadas neste ano, mas com grande impacto no ano que vem -como o aumento do salário mínimo, de 12%, contra 44% em 1995. Os planos de demissão voluntária nos Estados também darão sua contribuição positiva, diz Velloso. "O endividamento líquido do setor público ainda é baixo", diz o economista. Colaborou Lúcia Martins, de Londres Texto Anterior: Vendas têm bom fôlego Próximo Texto: A nova dependência Índice |
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