São Paulo, domingo, 27 de outubro de 1996
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Dirigente permanece 30 anos no poder

MARCIO AITH
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Antonio Alves de Almeida, 66, é hoje a personalidade mais emblemática de um movimento sindical do qual pouco se fala.
Neste ano, ele completa três décadas ininterruptas na presidência da CNTC (Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio), uma das 15 entidades que controlam a estrutura sindical oficial criada na década de 40 pelo presidente Getúlio Vargas.
Desconhecido do grande público -"Eu trabalho em silêncio, por isso ninguém percebe"-, Almeida é irmão do ex-deputado João Alves, principal personagem do escândalo do Orçamento.
O sindicalista faz uma defesa intransigente do imposto sindical obrigatório -que garante para sua entidade uma arrecadação anual de cerca de R$ 2,6 milhões- e da manutenção dos juízes classistas na Justiça do Trabalho -cargo que ocupou por três vezes no TST (Tribunal Superior do Trabalho).
Almeida falou à Folha no último dia 19, na sede da CNTC, em Brasília. O prédio tem 6.000 metros quadrados de área construída, jardins e um amplo espelho d'água.
*
Folha - O senhor está há 30 anos na presidência da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio. Não é muito tempo?
Antonio Alves de Almeida - Não é o que pensam os representantes das federações, que sempre votaram em mim. Até tentei desistir de me candidatar nas últimas duas eleições, mas o povo do Brasil todo insiste. Dizem que, se eu não me candidatar, vai haver três ou quatro chapas, que vai haver briga. E aí eu sempre sou candidato.
Folha - O senhor costuma ter adversários nas eleições?
Almeida - Houve alguns, mas poucos. Eles sempre chegam à conclusão de que estão perdendo tempo. Eles ligam para as federações para pedir voto e ouvem: "O meu candidato é o Almeida".
Folha - Ser irmão do ex-deputado João Alves lhe traz problemas?
Almeida - Não. Nossos mundos são diferentes. Meu irmão sempre foi político. Eu nunca fui, apesar de já ter sido convidado para ser candidato a deputado e a senador. Nunca deixei a política partidária entrar na confederação.
Folha - Como o senhor vê a crítica de que as confederações são entidades de carimbo, que recebem recursos fartos e não têm função?
Almeida - Em democracia, o indivíduo fala o que quer e o que bem entende. As confederações sempre foram os grandes baluartes da democracia. Nunca fomentaram desordem e discórdia.
Folha - Dizem que a confederação que o senhor preside arrecada por ano R$ 2,6 milhões, ou R$ 300 mil por mês. O valor está correto?
Almeida - É mais ou menos isso.
Folha - Como a confederação gasta esse dinheiro?
Almeida - Nós fazemos milagre. Ajudamos às necessidades de urgência e de angústia das federações nos Estados. A arrecadação deles às vezes acaba e eles precisam promover um dissídio coletivo, um encontro de sindicalistas.
Folha - Quanto se gasta com essa ajuda?
Almeida - Uns 10% a 20% do que arrecadamos.
Folha -E o restante?
Almeida - Com o restante, nós pagamos 35 funcionários, enviamos correspondências, fazemos viagens e preparamos seminários. Temos um auditório para 450 pessoas e outro com sistema de tradução simultânea para quatro idiomas, que comporta 80 pessoas.
Folha - Como o senhor vê a herança de Getúlio Vargas?
Almeida - Getúlio deixou uma herança feliz, saudável, que é o sistema sindical confederativo. Somos um forte aliado da democracia e, se convocados pelo governo, poderemos prestar relevantes serviços às reformas.
Folha - Como é o seu relacionamento com o ministro do Trabalho, Paulo Paiva?
Almeida - Ele não conversa com as confederações. Para as reuniões, ele só convoca as centrais, que, pela lei, nem existem como entidades sindicais.

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