São Paulo, domingo, 27 de outubro de 1996
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Dole quer votos de 'escravas do futebol'

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

A eleição presidencial norte-americana pode não ter excitado a imaginação coletiva do país mas pelo menos criou um novo grupo demográfico: "mamães futebolistas" ("soccer moms").
O candidato da oposição, Bob Dole, com graves problemas entre as eleitoras do país, popularizou a expressão ao utilizá-la na convenção nacional do Partido Republicano e no último debate televisionado com Bill Clinton.
O crédito para a invenção do termo é dado a Susan Casey, que concorreu no ano passado à Câmara de Vereadores de Denver, Colorado (oeste dos EUA), com o slogan "Uma mamãe futebolista na Câmara Municipal". Ela se elegeu e chamou a atenção de Dole para o neologismo.
A esperança de Dole era obter os votos dessas mulheres de classe média alta que trabalham fora de casa e centram suas atividades maternas no envolvimento que têm com o esporte dos filhos, o "soccer", ou seja, o futebol como é jogado no Brasil.
Muitas usam no carro plásticos com a inscrição "Eu não tenho uma vida; meus filhos jogam futebol". O protótipo da mãe obcecada por futebol tem sido usado por publicitários para vender novas marcas de alimentos.
O futebol, esporte ignorado nos EUA há apenas 25 anos, é uma sensação entre as crianças de classe média, em especial por causa das mães, que o preferem ao futebol americano por ser muito menos agressivo e arriscado.
As mamães futebolistas levam os filhos para os treinos e jogos, muitas se tornam técnicas dos times das crianças, outras comandam a torcida organizada e quase todas ajudam a manter financeiramente as equipes.
Há cerca de 50 milhões de mulheres em condições de votar na eleição da semana que vem. Apenas cerca de 3 milhões delas têm filhos (ou filhas) envolvidas com futebol (este é o número de menores de 18 anos que praticam regularmente o esporte no país).
Por que Dole se preocupa tanto com elas, se são tão poucas? Seu objetivo ao divulgar a expressão foi usar uma generalização simpática que se aplicasse a um número muito maior de mulheres, que preenchem o perfil ideal da "mamãe futebolista".
Ou seja: de 32 a 50 anos, com filhos menores de 18 anos, branca, com curso superior, casada, salário próprio entre US$ 2.000 e US$ 4.000 mensais.
Se conseguisse atrair esse grupo eleitoral (35% das mulheres), que em 1992 preferiu George Bush a Clinton por 48% a 27%, Dole poderia preencher um pouco o buraco que o separa do presidente nas pesquisas de intenção de voto.
Mas, ao que tudo indica, a operação de marketing não foi bem-sucedida. A mais recente enquete do jornal "The New York Times", por exemplo, mostra que 49% das mulheres do perfil ideal da "mamãe futebolista" continuam dispostas a reeleger o presidente e só 39% favorecem o candidato da oposição.

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