São Paulo, domingo, 27 de outubro de 1996
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QUESTÃO SEM RESPOSTA

O mercado financeiro brasileiro demonstra nervosismo mais uma vez. A tendência declinante das exportações, somada a uma alta mais forte -já esperada- das importações, trouxe de volta o debate em torno das diretrizes da política econômica do governo FHC. Para alguns observadores e agentes do mercado, um déficit comercial (importações acima de exportações) crescente coloca dúvidas sobre a política cambial subjacente à estabilização.
Esses mercados procuram sempre antecipar resultados e tendem a exagerar nas reações. Afinal, a especulação é inerente às finanças.
Entretanto, há alguns meses a questão cambial parecia relegada a um plano secundário, enquanto o governo prometia avanços na redução do "custo Brasil", nas reformas tributária e da Previdência, na privatização, abria linhas de crédito para exportadores, apostava no aumento da produtividade e no aumento dos investimentos externos.
Mas as reformas não ocorreram ou parecem sujeitas a um lentíssimo cronograma, ainda mais quando tudo parece sujeitar-se às articulações em torno da reeleição presidencial. E a economia ensaia uma recuperação que está forçando um aumento acima do esperado das importações.
Assim, o fato inegável é que o desconforto com a equação câmbio-crescimento-financiamento externo aumentou nos últimos dias. Um desconforto ao mesmo tempo subjetivo e objetivo. De um lado, resulta das expectativas sempre nervosas dos mercados financeiros. Mas que também está escorado em dados reais, ainda que inconclusivos.
Afinal, o próprio presidente FHC já reconheceu ser o câmbio do real um problema e agora mostra-se preocupado com o pobre desempenho das exportações brasileiras.
Embora não exista uma receita única de política econômica para lidar com esse desconforto, e provavelmente nunca venha a existir consenso no que se refere a políticas cambiais, a questão está recolocada. Resta saber se haverá quem, no governo, esteja disposto a repensá-la.

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