Folha de S.Paulo - PT não consegue renovar militância e perde a força da campanha de rua

São Paulo, segunda-feira, 28 de outubro de 1996

PT não consegue renovar militância e perde a força da campanha de rua

PATRÍCIA ZORZAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Diante da campanha de rua morna de Luiza Erundina, o PT já assume que a militância do partido não é a mesma de anos atrás e culpa o desemprego e o desânimo político generalizado pela mudança.
"A situação do país é muito difícil. As pessoas têm de trabalhar mais e têm menos tempo disponível para o partido", afirma Antônio Donato, secretário de organização do Diretório Municipal.
Segundo ele, as derrotas do PT nas duas últimas eleições presidenciais também contribuíram para esfriar o ânimo dos petistas.
"A derrota de Lula em 89 foi um marco. Todos investiram muito de suas vidas nisso. Agora, repensaram o tempo que poderiam dar para o PT", afirma Donato.
Em 1989, a militância do PT viveu seu grande momento, participando de comícios concorridos e grandes passeatas.
"Não se pode comparar os dois momentos. Na medida em que vai havendo eleição de dois em dois anos, as pessoas sabem quando é importante estar na rua", justifica Jilmar Tatto, um dos coordenadores da campanha de Erundina.
Para ele, é a partir do segundo turno que a participação da militância tende a aumentar.
Novidade
Outro fator desmobilizador apontado pelos petistas é a perda do "glamour da novidade" que o partido representava na década de 80. "Há 16 anos, o PT significava uma novidade no cenário político e, por isso, agregava naturalmente a mocidade", afirma Donato.
O argumento também explica, ao menos em parte, a tese de que a militância envelheceu. Sem a força da novidade e políticas voltadas à juventude, o partido não tem conseguido renovar seus quadros.
Paulo Roberto Fiorilo, um dos responsáveis pela mobilização da candidatura de Erundina, atribui parte do desânimo petista à profissionalização da atual campanha.
A escassez de material de propaganda é outro problema. "O material é a muleta do militante. Sem ele, as pessoas ficam sem o seu instrumento de trabalho", diz Tatto.

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