São Paulo, segunda-feira, 28 de outubro de 1996 |
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Disco transborda modernidade
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
"Benzina" é exatamente o que o nome sugere: um poderoso solvente contra o ranço e a pasmaceira que tomam conta da música brasileira em 1996. Edgard Scandurra, após década e meia imerso na ortodoxia rock (com o Ira! e em seu primeiro disco solo, "Amigos Invisíveis", de 89), lança um CD que transborda modernidade e se impõe como a surpresa nacional do ano. O CD é longo. Tem altos e baixos. Mas ouça, só para começar, "Infelizmente Sou Feliz". Uma atmosfera mista de rock industrial e bate-estaca tecno suporta letra existencialista rasgada e vocais que constituem a mais radical homenagem que o velho roqueiro Roberto Carlos já recebeu. Numa só faixa há rock, dance, pop e kitsch desvairado -sem sombra de preconceito. Como ele explica, faz o que faz em prol da psicodelia, não da dissolução. É o que ocorre também em faixas como "A Chuva que Cai" (homenagem involuntária a Jorge Ben, arrebatamento praticado com o devido distanciamento), "Jazzy James" -jungle mais surf music mais acid jazz igual a divertimento- ou "Lá Longe" -genial homenagem a Itamar Assumpção. Até quando ameaça criar barriga, o disco surpreende. "Vapores Marroquinos" exagera em mantras orientais que depois se dissolvem em batida à Massive Attack, afastando o perigo do estereótipo "world music". Nem sempre tudo dá certo. "Eu Faço Parte da Paisagem" é "Pantanal" demais para caber no CD; o messianismo apodrece "Beau Geste"; os versos concretistas de Arnaldo Antunes (em "Um Olho na Ponta de Cada Dedo" e no tecno-rock "Gera") destoam. Mas ainda aí predominam variedade não-gratuita, elaboração de arranjos, sofisticação de composições -tudo que o Brasil anda precisando. Ufa! (PAS) Texto Anterior: Scandurra tenta limpar 'manchas' da MPB Próximo Texto: Projeto 'Arte Cidade' arrecada R$ 2 milhões em patrocínios Índice |
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