São Paulo, segunda-feira, 28 de outubro de 1996
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Sofisticação atrai novos ricos chineses

Elite surge com reformas

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

Perfumes franceses, sapatos italianos, carros importados, viagens ao exterior, partidas de golfe, restaurantes caros e compra de antiguidades. Os novos ricos chineses, filhos das reformas econômicas pró-capitalismo, gastam seu dinheiro num universo sofisticado e encravado num país ainda controlado pelo Partido Comunista.
Mas, na China deste final de século, a expressão "luta de classes" praticamente desapareceu do manual do Partido Comunista.
O governo, desde 1978, prioriza a expansão econômica, adota a economia de mercado e tolera diferenças sociais impensáveis nos tempos da ortodoxia marxista do dirigente chinês Mao Tse-tung (1949-1976).
Hábitos antes rotulados como "decadentes e burgueses" viram moda entre os novos ricos. Jogar golfe, por exemplo.
Clubes privados
Em 1994, a China contabilizava 40 campos de golfe já em funcionamento ou em fase de construção, num investimento total de 10 bilhões de yuans (o equivalente a US$ 1,2 bilhão).
A revista do "Capital Club", um dos novos "clubes privados" de Pequim, traz regularmente reportagens sobre seus sócios.
A cada edição, um estrangeiro e um chinês. Nos dois últimos exemplares, os estrangeiros (um jornalista e um representante de uma companhia de seguros) indicaram como esportes prediletos basquete e natação.
Os chineses, ambos atuando no nascente mercado financeiro, elegeram o golfe.
Antiguidades
As opções de lazer dos novos milionários incluem também coleção de antiguidades.
As casas de leilões, trabalhando na China desde 1994, se acostumam a ver chineses na disputa por peças de arte, antes uma arena dominada por estrangeiros.
No ano passado, um quadro da dinastia Song do Norte (960-1127) foi vendido por 18 milhões de yuans num leilão em Pequim.
A única informação disponível sobre o comprador: um empresário chinês.
Empresário chinês também já virou nome de um pequeno planeta. O antes "Número 3556" se chama Li Xiaohua, para "lembrar contribuições do empresário no campo da educação, ciência e tecnologia", explicou o pai da idéia, um observatório da Província de Jiangsu (leste).
Natural de Pequim, a capital chinesa, Li Xiaohua, 45, atua em áreas como comércio exterior, projetos imobiliários e turismo.
Ele é apontado como um dos homens mais ricos da China com um patrimônio estimado em US$ 120 milhões.
Li diz ter doado para projetos educacionais e de caridade mais de 30 milhões de yuans nos últimos seis anos. Em 1993, se tornou o primeiro dono de um carro Ferrari na China, que foi importado por cerca de US$ 135 mil.
Preços salgados
Os padrões de consumo se sofisticam em ilhas de riqueza na capital Pequim. O China World Trade Center, por exemplo, abriga lojas que oferecem grifes européias e preços salgados.
Na loja Cerruti, um paletó de lã importado da Itália custa 15.850 yuans. Ao lado, na também italiana Ermenegildo Zegna, uma gravata sai por 2.900 yuans e um par de sapatos, por 3.300 yuans.
Os calçados italianos, no entanto, atingem preços mais altos na A. Testoni, localizada num dos corredores do Hotel Hilton. Um par sai por 6.600 yuans.
"Os chineses são a maioria dos nossos clientes", explica Zhao Jing, vendedora da Cerruti.
Já se foi o tempo em que os chineses guardavam em seus guarda-roupas apenas as túnicas no estilo Mao Tse-tung.

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