São Paulo, domingo, 3 de novembro de 1996
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Juro baixa, mas nem tanto

CELSO PINTO

A partir de novembro, a taxa de juros básica da economia, a TBC, cai de 1,82% para 1,78%. Boa notícia, mas muita gente no mercado financeiro está duvidando que os juros efetivos cairão, de fato, tudo isso.
O BC está preocupado com o ritmo de crescimento recente da economia, que considera excessivo. Se a economia não esfriar no início do próximo ano, é muito provável que o BC pise no freio, apertando mais uma vez o crédito. Fazer alguma coisa antes disso poderia bater de frente com a votação da reeleição.
Mesmo sabendo que um aperto viria mais para frente, o mercado acha que o BC pode segurar um pouco o ritmo de queda dos juros, como uma sinalização. Seria uma combinação entre queda dos juros nominais, como todos pedem, com uma queda mais lenta nos juros efetivos do open.
Hoje existem três taxas de juros básicas. A TBC é o piso, o custo pelo qual bancos comerciais e de investimento podem tomar dinheiro no Banco Central, dentro de certos limites, e usá-lo para si ou para repassar para outras instituições financeiras.
O teto é a chamada TBAN, que define o custo pelo qual bancos com problemas de fechar o caixa podem recorrer ao BC, também dentro de certos limites. A diferença é que quem recorre pagando TBC é porque quer, quem toma pagando TBAN é porque precisa. Entre as duas está a taxa Selic, que define o custo do dinheiro no open market.
Enquanto a TBC para novembro cairá de 1,82% para 1,78%, a TBAN cairá menos, de 1,93% para 1,90%. Ou seja, a diferença entre o piso e o teto saltou de 0,11% para 0,12%. Por quê?
O mercado suspeita que a intenção é forçar uma situação de mercado que leve os juros mais perto do teto, o que não é difícil. Basta que o governo, propositadamente, deixe o mercado "furado", como se diz, ou seja, deixe os bancos com um buraco de caixa a cobrir. Isso levaria, naturalmente, a uma elevação dos juros no open.
Na medida em que os juros no open ficassem mais próximos da TBAN, aumentaria o estímulo aos bancos para tomar dinheiro no BC pagando apenas a TBC e repassá-lo às instituições necessitadas.
Ao mesmo tempo em que estimularia mais o uso do dinheiro pela linha da TBC, como deseja, o BC faria com que a taxa efetiva não caísse tanto de outubro para novembro. Quer dizer, os juros cairiam mais nas manchetes do que na vida real. A partir desta semana, vai ser possível comprovar essa hipótese.
Privatização paulista
As regras para a remuneração das instituições financeiras que vão modelar e vender as empresas energéticas paulistas, que vão constar de um edital a ser divulgado esta semana, devem conter uma sutil, mas importante, mudança em relação ao que foi fixado para a Vale do Rio Doce.
No caso da Vale, a instituição tinha de dizer quanto queria de corretagem, qualquer que fosse o modelo de venda. Só que o modelo é crucial para definir o custo. Se a venda se faz para um pequeno grupo de controle, o custo é mínimo e a taxa de corretagem pode ser pequena. Se, ao contrário, o modelo prevê a venda para milhares de investidores no Brasil e no exterior, o custo é muito maior.
Quando a Merrill Lynch ganhou a concorrência da Vale cobrando 1,9% de corretagem, fez uma aposta: se tudo fosse pulverizado, sua margem de lucro ficaria bastante apertada. O modelo afinal definido pela própria Merrill junto com o BNDES acabou sendo a venda de 45% do capital para um grupo controlador e o resto pulverizado. Ou seja, o custo médio será razoável e o lucro será maior.
Pelo que se sabe, a intenção é vender as energéticas paulistas num modelo parecido com o da Vale: cerca de metade do capital iria para um grupo de controle e o resto seria pulverizado. Na concorrência para escolher o intermediário, o edital pediria três taxas diferentes: uma para venda ao grupo de controle, uma para venda pulverizada aqui, outra no exterior. Ganharia quem cobrasse menos, mas o peso da proposta de corretagem para a venda do grupo de controle teria peso 8 para efeito da concorrência, enquanto as outras duas teriam peso 1 cada.
O objetivo seria estimular os concorrentes a oferecer a menor taxa possível para a venda ao grupo de controle e tentar compensar subindo as taxas para pulverização. Com isso, o intermediário teria todo o estímulo para vender pulverizado, ao contrário do que aconteceu com a Vale.

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