São Paulo, domingo, 3 de novembro de 1996
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Mercado externo já espera retração econômica em 97

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado externo já trabalha com um cenário no país de arrocho monetário e forte desaceleração na atividade econômica no primeiro trimestre de 1997.
Economistas internacionais dizem que o principal responsável por esse cenário é o atraso do ajuste fiscal: sem ele, a correção de curso para combater o aumento do déficit comercial (importações maiores do que as exportações) serão os juros altos, restrições ao crédito e freio na economia.
O economista Paulo Leme, do banco de investimentos norte-americano Goldman Sachs, diz que sem o ajuste fiscal, "a peça mais importante da máquina do crescimento com inflação baixa", a resposta vai ser desacelerar de novo a economia, "exacerbando o dilema entre inflação e crescimento".
O governo já recorreu à política monetária (juros altos) para desativar a demanda e manter a inflação sob controle no início de 95.
Este ano, as projeções oficiais de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto, que mede a riqueza produzida no país) foram revistas duas vezes, passando de uma meta de 5%, no início do ano, para 4% a 4,5% depois e, agora, 3,5%.
"A variável de sacrifício é o crescimento, dado que é vital, depois da crise do México, manter as contas externas sob controle", afirma.
O México, em dezembro de 1994, teve de desvalorizar o peso em 50% após exaurir suas reservas para financiar o déficit comercial.
Dan Dorrow, da instituição financeira norte-americana Merril Lynch, também prevê desaceleração econômica, restrições ao crédito e às importações.
Dorrow projeta um ritmo lento de crescimento no Brasil em 97, "mais para 3% do que para 4%", por causa da necessidade de impedir um maior déficit comercial.
Dorrow, que diz não estar nem animado nem preocupado com a situação do Brasil, estima um déficit comercial de US$ 6,6 bilhões e uma taxa de inflação de 9% em 97.
Modelo esgotado
Walter Schãfer, economista do Dresdner Bank, o segundo maior banco alemão, que atua no Brasil por intermédio da subsidiária Deutsch-Südamerikanische Bank e do banco de investimentos Kleinwort Benson, diz que o modelo brasileiro de "estabilização por decreto" está esgotado.
Para Schãfer, o déficit no balanço de pagamentos não é mais um problema, devido ao nível recorde de reservas, mas o fracasso do governo em aprovar as reformas coloca em risco a estabilidade futura.
Segundo Schãfer, a aprovação das reformas tributária, administrativa, previdenciária e o deslanche das privatizações aumentariam significativamente a confiança dos investidores no Brasil.
Ele diz que o desequilíbrio do setor público preocupa os analistas internacionais porque pode ser agravado por problemas no sistema bancário. "O governo emprestou US$ 13 bilhões para reestruturar o sistema bancário privado, e o socorro aos bancos estaduais provavelmente será muito mais caro."

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