São Paulo, domingo, 3 de novembro de 1996 |
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No ônibus com Maluf _ 2
MARCELO LEITE A propósito da coluna da semana passada, "No ônibus com Maluf", recebo a seguinte carta (trechos) de Regina Helena Teixeira Alonso, assessora de imprensa da São Paulo Transporte S.A. (SPTrans), que gerencia o transporte público na cidade:* "(...) Causa-nos estranheza (...) que o sr. Marcelo Leite prefira acreditar que as informações levantadas pelo repórter são improcedentes, apenas porque foram desfavoráveis à ex-administração petista. Para melhor esclarecê-lo, apresentamos alguns dados comparativos entre os períodos 1989/1992 e 1993/1996, que mostram uma melhoria substancial, quantitativa e qualitativa, do sistema de transporte coletivo como um todo. "1. O número de passageiros transportados por veículo dia (PVD) foi, em média, de 762 passageiros no período 89/92 e de 591 no período 93/96. "2. Considerando dados da planilha de custos de dezembro de 1992 (publicados no Diário Oficial do Município), o número de passageiros transportados por metro quadrado no sistema foi de 7 pass./m2, contra os 6,5 pass./m2 atuais (os 8 passageiros por metro quadrado citados na reportagem referiram-se a situação nos horários de pico). "3. A média dos ônibus em operação no período 89/92 foi de 8.337 veículos, enquanto que a média na gestão atual é de 10.319 veículos. (...) "4. O número de viagens realizadas no período 89/92 foi de 34,2 milhões/ano. No período 93/96 esse número saltou para 40,2 milhões/ano. Esse significativo aumento de 17,5% se deu em função de reprogramações horárias e de uma melhor utilização da frota. (...) "5. Outro dado importante diz respeito ao número de acidentes por quilômetro, verificado em ambos os períodos. Em 89/92 era contabilizado um acidente a cada 35.250 quilômetros, enquanto que no período 93/96 essa relação passou a ser de um acidente a cada 44.250 quilômetros (...). "6. Quanto à queda de velocidade comercial, verificada entre os dois períodos, tal fato não pode ser simplesmente comparado sem levar em consideração outras variáveis conjunturais, como o trânsito da cidade. "7. Sobre os indicadores econômicos, esclarecemos que fazer comparação de valores convertidos em dólar da época distorce qualquer análise, quando se trata de uma conjuntura inflacionária como a que vigorava até o início do Plano Real. (...) Uma comparação de valores de épocas distintas pode ser melhor avaliada com o uso de outros indicadores, como por exemplo, o IPC/Fipe da USP. Adotando esse indicador, temos que o custo por passageiro em dezembro de 92 foi de R$ 0,95; em dezembro de 95 de R$ 0,82 e em junho de 96 de R$ 0,93. "8. A remuneração paga às empresas contratadas foi de R$ 0,95 em dezembro de 92, de R$ 0,76 em dezembro de 95 e de R$ 0,86 em junho de 96. "9. O nível dos custos atuais deve-se, em grande parte, a medidas adotadas na gestão passada: a) reajustes salariais reais, celebrados em novembro de 92 e aplicados à categoria no período de dezembro de 92 a abril de 93, num percentual total de 43,7%, acima dos índices de inflação calculados pelo Dieese na oportunidade. Somente este fato proporcionou um acréscimo real de 27% no custo total do sistema; b) contenção tarifária observada no período de setembro a dezembro de 92, quando a tarifa foi reajustada em 52%, para uma inflação acumulada nesse período, medida pelo IPC/FIPE, da ordem de 140%; c) em dezembro de 92 o valor tarifário cobria apenas 57% do custo por passageiro vigente na época. "10. Por fim, quando o sr. Marcelo Leite afirma que na cidade de São Paulo o usuário paga 94% do custo, refere-se apenas a diferença dos valores do custo apurado do sistema de R$ 0,86 e a tarifa vigente de R$ 0,80, sem levar em consideração os demais subsídios existentes no sistema: passe escolar, Bilhete do Trabalhador e bilhete de integração (ex. ônibus-Metrô, subsidiado pela Prefeitura). "Assim, acreditamos que o jornalista autor da matéria publicada nesse jornal no dia 19 do corrente não merece ser crucificado, pois foi fiel aos fatos, como demonstram os dados mais detalhados ora apresentados." * Parece que a assessora não leu a coluna. Confira: 1. Acusa o ombudsman de querer crucificar um repórter, quando a crítica era dirigida ao jornal (o nome do autor da reportagem nem foi citado). 2. Diz que considerei os próprios dados improcedentes, quando limitei-me a questionar o equilíbrio de sua interpretação pelo jornal. 3. No ápice da incoerência, passa a corrigir os dados que deveriam ser considerados procedentes (alguns fornecidos pela própria SPTrans). Não é o ombudsman que a SPTrans precisa esclarecer, mas o público. A julgar pelo teor da carta, parece mais interessada em confundi-lo. Texto Anterior: Jornalismo de serviço Próximo Texto: Corinthians bate Juventude e ainda 'respira' no Brasileiro Índice |
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