São Paulo, domingo, 3 de novembro de 1996
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Acidente danificou as duas caixas-pretas

MARCELO GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

As duas caixas-pretas do Fokker-100 da TAM estão danificadas. Os peritos da Aeronáutica não conseguiram decifrar as conversas da cabine do vôo 402.
O F-100 da TAM caiu na quinta-feira passada em cima de casas no Jabaquara (zona sul de São Paulo), matando 102 pessoas. As caixas-pretas e as turbinas são as partes mais importantes da aeronave que podem determinar a causa da queda do vôo 402.
A caixa com os diálogos entres os tripulantes foi aberta anteontem à noite, mas as gravações estavam quase inaudíveis. Com isso, os dados sonoros da cabine não estarão disponíveis imediatamente.
A caixa-preta com as conversas da cabine é uma espécie de gravador cuja fita roda sem fim. Ela grava sempre os últimos 20 minutos de diálogos na cabine.
Apenas pequenas trechos puderam ser compreendidos pela comissão que apura o acidente, mas os membros do grupo não informaram quais eram esses trechos.
Por causa desse problema, essa caixa-preta será enviada aos Estados Unidos. Lá, os peritos do NTSB (National Transportation Safety Board), que cuidam da segurança de todos os meios de transporte naquele país, deverão tentar limpar os ruídos da fita para descobrir o conteúdo.
Fly data
A outra caixa-preta do Fokker-100, a fly data recorder, que grava 76 informações técnicas sobre o funcionamento da aeronave, também será enviada ao NTSB. O motivo é que o incêndio da aeronave danificou essa caixa.
A fly data funciona como um gravador de dados. Nela estarão indicados, entre outras coisas, como estavam a velocidade, a potência do motor, o funcionamento dos aparelhos eletrônicos da aeronave e do sistema hidráulico no momento da queda.
"O problema dela está nas conexões. Elas estão danificadas. Se tentarmos extrair os dados no Brasil, podemos fazer uma leitura errada ou danificar as informações", disse o tenente-coronel aviador Flávio Lúcio Sganzerla, do 4º Comando Aéreo Regional.
Segundo ele, as caixas-pretas deveriam seguir entre ontem e hoje para os Estados Unidos. "É a partir da decodificação desses dados que poderemos diminuir nosso horizonte de investigação sobre as causas", disse.
Turbinas
Além disso, os peritos da Aeronáutica vão começar a examinar as turbinas do avião para verificar se elas estavam funcionando no momento da queda. Caso haja dúvida, elas poderão ser enviadas ao CTA (Centro Técnico Aeroespacial), em São José dos Campos (SP).
Os peritos ingleses da Rolls-Royce, fabricante das turbinas, poderão acompanhar essa perícia. Desde sexta-feira, três enviados da fábrica estão no Brasil acompanhando a investigação do DAC (Departamento de Aviação Civil), órgão subordinado à Aeronáutica.
Um mecanismo chamado reverso, uma espécie de freio aerodinâmico da turbina, pode ter sido a causa do acidente. O reverso só deve abrir nos pousos. Acionado na decolagem, ele derruba o avião.
Ontem, os peritos da Aeronáutica terminariam a colheita de peças do avião acidentado. Elas foram armazenadas num galpão no aeroporto de Congonhas.

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