São Paulo, domingo, 3 de novembro de 1996
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Conclusões do estudo colocam Febem em xeque

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

O estudo do professor Roberto da Silva resulta em três conclusões que constituem uma crítica contundente contra o modelo Funabem/Febem.
Para extraí-las, o pesquisador traçou o perfil estatístico dos 135 meninos que se tornaram criminosos (veja quadro acima).
Também recorreu às lembranças de tudo o que vivenciou na infância e adolescência.
Conheça, a seguir, as principais constatações da tese:
* Os internatos, embora devessem educar as crianças e lhes ensinar uma profissão, não o fazem.
Em conseqüência, quando sai da instituição, o jovem adulto encontra muitas dificuldades para se sustentar.
Não é à toa que 47,1% dos 135 infratores nunca frequentaram a escola. E que 74,1% carecem de formação profissional.
* Os internatos aguçam a desintegração familiar dos meninos. Separam os irmãos e não permitem que os internos consultem os relatórios da instituição sobre si próprios.
"Os documentos, muitas vezes, contêm dados que poderiam esclarecer dúvidas importantes", afirma Silva. "Revelam, por exemplo, como os pais do garoto o abandonaram."
O pesquisador diz que a regra dos internatos é guardar segredo sobre a família das crianças.
"Pense num menino que entrou na instituição com menos de um ano", propõe. "Ele poderá crescer sem saber se tem irmãos. E, caso saiba, dificilmente lhe informarão onde se encontram."
* A brutalidade é o elemento que regula as relações entre os garotos nos internatos.
Para conquistar respeito e conseguir se preservar fisicamente, o interno precisa se valer da força. Ou, pelo menos, deixar claro que, se necessário, estará disposto a lançar mão da violência -inclusive a sexual.
"Fora dali, a habilidade nos esportes e a capacidade intelectual contam pontos. Dentro dos internatos, não. O que importa é a agressividade", explica Silva.
Os internos, então, crescem aprendendo como melhor amedrontar o outro -o que significa ter pleno conhecimento dos "códigos da violência" (manejo de armas, técnicas de roubo, curras).
O pesquisador ressalta que a "pedagogia do crime" impera entre os meninos sem que a direção dos internatos procure quebrá-la.
As instituições, ao contrário, a reforçam quando estabelecem com os garotos relações de opressão e subordinação.
"Preocupam-se mais em garantir a disciplina do que em promover o desenvolvimento afetivo das crianças", argumenta.
"Assim que deixam os internatos", continua, "os jovens se deparam com a violência simbólica a que todo mundo está sujeito, a violência das diferenças sociais. Muitos acabam reagindo com o único expediente que dominam plenamente, a violência bruta -os assaltos, o homicídio, o estelionato."
(AA)

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