São Paulo, domingo, 3 de novembro de 1996
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Floresta da Tijuca passa a cobrar entrada

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

A partir de janeiro, quem visitar o Parque Nacional da Tijuca terá de pagar pedágio. Barreira natural entre as zonas sul, norte e oeste do Rio, a maior floresta urbana do mundo e cartão postal da cidade só poderá ser frequentada por quem comprar ingresso.
O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) justifica o fechamento dos acessos e a cobrança como uma tentativa de diminuir a violência no parque.
O planejamento da superintendência do Ibama no Rio e da administração do parque prevê que, no início de janeiro, os oito acessos para veículos estarão fechados por cancelas eletrônicas, parecidas com pedágios de rodovias.
Só poderão entrar os que pagarem ingressos, como já ocorre no Corcovado, único ponto do parque em que é cobrada entrada.
A cobrança será feita por carro e por pessoa. Os preços ainda não estão definidos. Quem visita o Cristo Redentor paga, hoje, R$ 1,30, mais R$ 3,70 pelo carro. A entrada para a visita de todo o parque deverá custar mais.
Fora o Cristo, tudo é grátis no Parque Nacional da Tijuca, cuja área de 3.200 hectares é precariamente fiscalizada pela PM (Polícia Militar), agentes do Ibama e seguranças de firmas particulares.
A cobrança de ingresso deverá criar polêmica entre os que vão à floresta, que não é frequentada só por turistas. Há pessoas que caminham em trilhas, fazem ginástica, tomam banho em cachoeiras, andam de bicicleta, escalam encostas. Todas terão de pagar.
A administradora do Parque Nacional da Tijuca, Sônia Peixoto, disse à Folha que o dinheiro arrecadado ajudará nos projetos de conservação da natureza.
"Vai ser igual a qualquer outro parque do mundo. Tem de gerar recursos para oferecer segurança e infra-estrutura", afirmou ela.
A idéia é fechar o parque entre as 20h e as 7h. No período, só entrará quem mora dentro do parque.
"Quem vai de noite ao parque certamente não é para fazer turismo. Com o fechamento, as ocorrências violentas vão diminuir 90%", disse Sônia Peixoto.
Os moradores legalizados do parque estarão isentos da cobrança de pedágios. O problema é que ninguém sabe quantos moram ali.
"Vai haver um levantamento rigoroso de quem mora e de quem é invasor", disse a administradora.
O Ibama e a administração do parque preparam um estudo de gestão conjunta da floresta. A Prefeitura do Rio participaria cedendo guardas municipais.
O Estado deverá instalar no parque uma tropa do Batalhão Florestal.
"O parque não será privatizado. O que se pretende é um novo modelo de gestão que englobe as esferas federal, estadual e municipal, iniciativa privada e organizações não-governamentais", disse a assessora Elizabeth Sarmento, do Ibama no Rio.
História
O Parque Nacional da Tijuca foi criado por decreto federal em 1961.
A maior parte da mata densa que cobre o parque se origina da ação de reflorestamento empreendida a partir de 1861 pelo major Manuel Archer.
A floresta havia sido devastada no decorrer dos séculos 17, 18 e 19, para a instalação de lavouras de chá, café e cana-de-açúcar.
Archer plantou cerca de 10 mil mudas de espécies vegetais nativas, propiciando a regeneração florestal.
(ST)

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