São Paulo, domingo, 3 de novembro de 1996
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Os baculovírus, os vírus pesticidas

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Tem havido muito progresso nestes últimos tempos nas pesquisas sobre como agem os chamados baculovírus. Tão importantes são esses avanços que Loy E. Volkman, em apanhado publicado na revista "Science" (269,1834), acha até irônico que eles se façam em áreas (pesquisa médica e farmacêutica humana) sem qualquer relação com o conhecimento aprofundado do vírus e de suas interações com seus hospedeiros naturais.
Os baculovírus são totalmente inócuos para o homem e os demais vertebrados, mas atacam e destroem formas larvais (lagartas) de lepidópteros (borboletas e mariposas). Essa destruição ocorre em todas as fases do desenvolvimento do inseto até chegar à pupa e ao inseto adulto, que são refratários.
O padrão dos baculovírus é o vírus da poliedrose nuclear da Autographa californica, sendo o vírus abreviadamente denominado de AcMNPV. Esse vírus pode sobreviver fora de seu hospedeiro, enclausurado em cristais de proteína que o protegem contra o dessecação.
Essa proteína é a poliedrina, que possui um gene dotado de forte poder de transcrição, o qual tem sido aproveitado para expressão de produtos de outros genes, estranhos. São vetores de expressão do baculovírus, hoje usados rotineiramente em muitos laboratórios de pesquisa básica em todo o mundo. Originaram ainda uma grande estrutura tecnológica dedicada à produção de vacinas, agentes terapêuticos e reagentes.
Mas esse grande desenvolvimento tecnológico praticamente só tem ocorrido em áreas de interesse comercial. Os cientistas lamentam que igual vigor não se aplique às áreas de pesquisa básica sobre a natureza do vírus e de suas interações com os hospedeiros.
Pesticidas
A justificação inicial para estudar os AcMNPV e outros baculovírus foi a necessidade de atender aos pedidos de praguicidas e pesticidas mais eficientes e menos tóxicos do que os atualmente em uso. E, de fato, os produtos à base de baculovírus vêm-se revelando excelentes, especialmente por sua atividade letal e sua inocuidade para o homem e os animais domésticos, sem falar no limitado âmbito de seus hospedeiros, não se espalhando a outros insetos que não constituem praga.
Defeito dos baculovírus como praguicidas e pesticidas é a demora dos hospedeiros em morrer. Durante esse período, uma lagarta pode destruir muita matéria vegetal. A biotecnologia está estudando meios mais adequados de apressar a ação dos baculovírus, o que envolve vários problemas.
Fato interessante foi observado por M. D. Ayres e colaboradores com a ecdisona, hormônio das lagartas que promove a muda e portanto a passagem de uma fase de desenvolvimento para a seguinte. O produto de um certo gene inativa a ecdisona e até certo ponto bloqueia a pupação. Ora, os insetos adultos e as pupas não são sensíveis à infecção pelos baculovírus. Assim, aquele gene impede o hospedeiro de, através da pupa, originar um animal resistente.

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