São Paulo, domingo, 3 de novembro de 1996 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Os baculovírus, os vírus pesticidas
JOSÉ REIS
Os baculovírus são totalmente inócuos para o homem e os demais vertebrados, mas atacam e destroem formas larvais (lagartas) de lepidópteros (borboletas e mariposas). Essa destruição ocorre em todas as fases do desenvolvimento do inseto até chegar à pupa e ao inseto adulto, que são refratários. O padrão dos baculovírus é o vírus da poliedrose nuclear da Autographa californica, sendo o vírus abreviadamente denominado de AcMNPV. Esse vírus pode sobreviver fora de seu hospedeiro, enclausurado em cristais de proteína que o protegem contra o dessecação. Essa proteína é a poliedrina, que possui um gene dotado de forte poder de transcrição, o qual tem sido aproveitado para expressão de produtos de outros genes, estranhos. São vetores de expressão do baculovírus, hoje usados rotineiramente em muitos laboratórios de pesquisa básica em todo o mundo. Originaram ainda uma grande estrutura tecnológica dedicada à produção de vacinas, agentes terapêuticos e reagentes. Mas esse grande desenvolvimento tecnológico praticamente só tem ocorrido em áreas de interesse comercial. Os cientistas lamentam que igual vigor não se aplique às áreas de pesquisa básica sobre a natureza do vírus e de suas interações com os hospedeiros. Pesticidas A justificação inicial para estudar os AcMNPV e outros baculovírus foi a necessidade de atender aos pedidos de praguicidas e pesticidas mais eficientes e menos tóxicos do que os atualmente em uso. E, de fato, os produtos à base de baculovírus vêm-se revelando excelentes, especialmente por sua atividade letal e sua inocuidade para o homem e os animais domésticos, sem falar no limitado âmbito de seus hospedeiros, não se espalhando a outros insetos que não constituem praga. Defeito dos baculovírus como praguicidas e pesticidas é a demora dos hospedeiros em morrer. Durante esse período, uma lagarta pode destruir muita matéria vegetal. A biotecnologia está estudando meios mais adequados de apressar a ação dos baculovírus, o que envolve vários problemas. Fato interessante foi observado por M. D. Ayres e colaboradores com a ecdisona, hormônio das lagartas que promove a muda e portanto a passagem de uma fase de desenvolvimento para a seguinte. O produto de um certo gene inativa a ecdisona e até certo ponto bloqueia a pupação. Ora, os insetos adultos e as pupas não são sensíveis à infecção pelos baculovírus. Assim, aquele gene impede o hospedeiro de, através da pupa, originar um animal resistente. Texto Anterior: TECNOLOGIA; TECNOLOGIA 2; CÂNCER; ROBÔS; CALVÍCIE; ALZHEIMER; MEDICINA; COMPORTAMENTO Próximo Texto: Por que os planetas, fora Plutão, estão no mesmo plano? Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |