São Paulo, domingo, 3 de novembro de 1996
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As sete maravilhas do mundo... da TV

MARCELO MANSFIELD
ESPECIAL PARA A FOLHA

Desde a sua invenção, a televisão tem sido motivo de críticas, insultos, impropérios e toda sorte de comentários maldosos a respeito de sua qualidade.
Se a princípio era uma forma menor de entretenimento ou arte, isso foi resolvido com os teleteatros estrelados pelas primeiras-damas e cavalheiros de nosso teatro, que deram ao novo veículo certa respeitabilidade. E, tempos depois, atores e atrizes, vindos do rádio, se estabeleceram como primeiras-damas e cavalheiros desse novo veículo, fazendo não só suas parcelas de papéis dramáticos ou cômicos em maravilhosos programas como "TV de Comédia" e "TV de Vanguarda", como também em programas de entrevistas, paradas de sucessos, gincanas, musicais inspirados no teatro de revista, comédias de costumes e novelas.
Essas mesmas pessoas ocuparam centenas de capas de revistas que atraíam, para suas maravilhosas interpretações, um público que os preferia na telinha da TV do que em editoriais de moda, da mesma maneira que o público de hoje prefere os modelos nas capas das revistas do que em papéis principais nos programas de TV que, infelizmente, acreditam que beleza pode superar talento.
Para esclarecer as pessoas sentadas nos sofás de que elenco com beleza sem talento não existe, resolvi apresentar minha versão do que seriam as "sete maravilhas do mundo televisivo".
É claro que se trata de uma opinião pessoal, que obviamente não será compartilhada por muitas pessoas que neste momento estiverem lendo esta coluna. Mas, como disse, é uma opinião pessoal, sujeita a críticas.
Selecionei os meus sete pecados entre programas de várias partes do mundo:
1) "I Love Lucy" - Depois de amargar quase 20 anos em papéis secundários, por ser considerada pouco "sexy", a atriz de filmes B Lucille Ball apareceu em 1951 com uma idéia para uma comédia semanal, em que, ao lado do marido, o decadente líder de orquestra Desi Arnaz, viveria um típico casal classe média às voltas com os problemas domésticos. Decadentes nada. Os dois, em menos de cinco anos, se tornaram o casal mais rico de Hollywood e, até hoje, são reverenciados como os criadores da comédia de situação.
2) "Alô, Doçura" - Enquanto Lucy e Ricky festejavam sua boa sorte acima do Equador, Eva Wilma e John Herbert, no apogeu da juventude e beleza, aprontavam das suas no Brasil. O programa ficou anos em cartaz, provou que Cassiano Gabus Mendes era um gênio e que a dupla de atores tinha vindo para ficar. Ficaram até hoje. Sorte nossa.
3) "Estúdio Uno" - Assunto de uma das primeiras colunas do "TV a Lenha". Trazia a Itália moderna dos anos 60 aos filhos e netos dos imigrantes do começo do século. Rita Pavone, Mina, Gigliola Cinquetti e as irmãs Kessler brilhavam ao som de Enio Moricone.
4) "Moacir Franco" - Cantando de costas para a câmera e platéia, em seu programa, no começo dos anos 60. Mas isso é do tempo em que a música brasileira não se chamava "rock".
5) "Maria Aparecida Baxter" - Como Dona Marocas em "Redenção". Pode se pensar em fazer um remake, mas nunca haverá fofoqueira como ela. Ou como Célia Biar e Cleber Macedo em "Estúpido Cupido".
6) "Nacional Kid" - Hoje você também pode assistir a um filme cheio de efeitos especiais. Mas, naquela época, você poderia fazer em casa os mesmos efeitos do famoso seriado japonês. Era só pôr uma meia preta na cabeça e você virava um "Inca Venusiano".
7) "Rosamaria Murtinho" - Em "Somos Todos Irmãos", ao lado de Sérgio Cardoso. Nem as lentes de contato nem a dublagem conseguiram atrapalhar. A atriz é a prova de que beleza e talento podem seguir juntos por muitos anos. Vide "Intensa Magia" e "Salsa e Merengue".
Como eu disse, muitos podem não concordar. Mas que esses sete exemplos são para pensar, ah, isso lá são.

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