São Paulo, domingo, 3 de novembro de 1996
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Astro de "Friends" aproveita o sucesso na TV para fazer cinema

ELAINE GUERINI
DA REPORTAGEM LOCAL

As séries norte-americanas nunca emprestaram tantos astros para as telas de Hollywood. Basta um seriado conquistar o público na TV para a indústria cinematográfica incluir nomes do elenco nos créditos de suas produções.
Em "O Primeiro Amor de um Homem", que estréia na próxima sexta-feira nos cinemas brasileiros, o ator recrutado para o papel-título foi David Schwimmer, 29, um dos astros da série "Friends", da rede NBC -exibida no Brasil pelo canal pago Sony às terças, às 21h.
Um dos maiores sucessos da TV nos EUA, "Friends" é visto por 26 milhões de pessoas, segundo o instituto Nielsen. Na lista dos 20 programas mais assistidos, disputa atualmente o quarto lugar com "Suddenly Susan", a nova série estrelada por Brooke Shields -perde só para "Seinfeld", "Plantão Médico" e "Home Improvement".
"Friends" retrata com bom humor o cotidiano de seis jovens nova-iorquinos. No papel de Ross, um paleontólogo inseguro, Schwimmer contracena com Jennifer Aniston, Matthew Perry, Lisa Kudrow, Matt LeBlanc e Courtney Cox. Detalhe: os cinco atores também estão envolvidos em filmes.
"Todos querem ser astros de cinema", diz David Schwimmer, em entrevista à Folha, concedida por telefone, de Los Angeles. "O ator ganha dinheiro sem fazer muito esforço na TV, mas não é tão respeitado."
No novo filme, Schwimmer atua ao lado da última queridinha de Hollywood, Gwyneth Paltrow, a namorada de Brad Pitt. Interpreta um cara que, como Ross, ainda não sabe que rumo dar a sua vida. A seguir, os principais trechos da entrevista.
*
Folha - A série de TV é apenas um trampolim para o cinema?
David Schwimmer - É bom trabalhar em seriado, mas duvido que George Clooney (de "Plantão Médico") e Helen Hunt (de "Louco por Você") tenham crescido pensando em ser astros de TV. O que nós queremos é estar na telona. Todos os atores que vivem em Los Angeles querem a mesma coisa.
Sempre sonhei com isso. Não preciso ser necessariamente um astro, posso fazer papéis pequenos, mas quero estar no cinema. Os atores de TV nunca tiveram o prestígio que os de cinema têm. Folha - Pensa em deixar "Friends" para se dedicar mais ao cinema?
Schwimmer - Estou comprometido por mais três anos e pretendo cumprir. Felizmente ainda me divirto fazendo o Ross e gosto muito da equipe. Existe uma química entre nós. É incrível. Nos últimos dois anos, percebi o quanto tive sorte por pertencer a esse grupo. É o tipo de coisa que aparece raramente na vida.
Financeiramente também é vantajoso continuar. Isso vai me permitir fazer o que quiser depois. Terei dinheiro suficiente para tocar meus projetos e formar uma família.
Folha - O cachê no cinema é sempre maior?
Schwimmer - Normalmente você ganha mais em filmes. Mas eu não sei qual deles vale mais a pena, já que o ator de cinema trabalha cerca de 20 horas num único dia e o trabalho na TV é menos estressante.
Nós, da equipe de "Friends", trabalhamos uma média de seis a oito horas por dia. Ensaiamos de segunda a quinta e gravamos o episódio na sexta. A atmosfera é descontraída, com vários intervalos. A pressão nem se compara à do cinema.
Folha - O que o atraiu no roteiro de "O Primeiro Amor..."?
Schwimmer - Foi o melhor que eu li no ano passado, quando estava procurando um filme para rodar durante o intervalo das gravações de "Friends". Eu me identifiquei com o papel de Tom.
Eu me lembro da época em que tinha aquela idade, era recém-formado e estava vivenciando as mesmas coisas que ele enfrenta na história: deixar a casa dos pais, amadurecer e descobrir as coisas por si mesmo.
Folha - Por ser tão inseguro, Tom se parece com Ross de "Friends"...
Schwimmer - Acho que os dois personagens são vulneráveis. Mas Ross é mais homem, principalmente na hora de enfrentar uma situação ruim.
Tom vai amadurecendo durante o filme. Ele não sabe o que é ter responsabilidade. No final da história é que ele passa a assumir as suas ações e percebe que o que faz pode afetar os outros.
Folha - Qual o próximo papel? Pensa em mudar de imagem?
Schwimmer - Acabei de dirigir um filme em Chicago com a minha companhia de teatro. O título provisório é "Dogwater" e eu faço um papel de um líder estudantil sem escrúpulos.
Felizmente o público não vai gostar muito desse meu personagem. Ele finge ser amigo, mas, na verdade, não podia se importar menos com os outros.
Folha - Como foi a estréia na direção?
Schwimmer - Fantástica. É muito envolvente. Estou ocupado com a edição do filme. Tenho trabalhado nisso há um ano e quatro meses e sei que ainda haverá muito o que fazer até a estréia. É muito mais trabalhoso do que eu podia imaginar.
Folha - Há muita pressão nos bastidores de "Friends"?
Schwimmer - Nós nos esforçamos para manter o show sempre bom, engraçado. A imprensa é que nos pressiona demais. O seriado se tornou tão popular em tão pouco tempo. De um dia para outro, estávamos lá em cima.
O problema é que depois eles ficaram cheios de nós e agora querem nos colocar lá embaixo. O engraçado é que a mídia não culpa ela mesma e sim a série. Folha - O que faz "Friends" ser tão popular?
Schwimmer - Ninguém tem a resposta. Olhando objetivamente acho que o sucesso é resultado de um texto bom. Outro fator é que os seis personagens são pessoas comuns e o público se identifica com pelo menos uma.
Na verdade, eles são perdedores. Seis pessoas que não têm as respostas, que não são bem-sucedidas e que não atingiram seus sonhos. A nossa amizade na vida real também conta. Outras séries, em que o elenco não se entende, acabam dando errado.
Folha - Não existe competição para ver quem chama mais a atenção da mídia?
Schwimmer - Não. É como se nós tivéssemos feito um pacto. Não pode haver esse tipo de coisa entre nós. O seriado sofreria com isso. Como existem seis personagens principais, dá para distribuir o foco de atenção.
Em alguns episódios, um ator pode se destacar mais do que o outro, mas os roteiristas se preocupam em balancear.
Folha - A Warner aceitou todas as reivindicações quando vocês ameaçaram entrar em greve em julho (eles pediram US$ 100 mil por episódio, mais uma cota dos lucros)?
Schwimmer - Desde o começo, exigimos que o salário fosse igual para todos. Até esse ano, cada um ganhava uma quantia. Foi uma briga. Nesse negócio, você precisa mostrar o quanto vale, e nós lutamos para mostrar que tínhamos o mesmo peso.
Folha - O que você sabe sobre o futuro de Ross e Rachel? Eles continuam juntos?
Schwimmer - Por enquanto, sim. Não sei o que os roteiristas reservam para eles, mas penso que seria interessante se eles se casassem mais para frente. Só acho que eles deveriam ficar um tempo separados antes disso.
Folha - Como você encara o assédio dos fãs?
Schwimmer - Às vezes, é constrangedor. Em algumas partes do país, os fãs vêm para cima. Em outras, as pessoas são mais reservadas. Mas nós não podemos sair os seis juntos. Isso sempre provoca uma cena.
Eu, o Matt e o Matthew vamos sair de férias juntos. Vamos visitar Londres e Paris. Estamos ansiosos para ver o que acontece, já que nós nunca saímos do país desde o estouro de "Friends". Podemos sair do roteiro e, quem sabe, passar pelo Brasil.

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