São Paulo, terça-feira, 5 de novembro de 1996
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Coquetel reduz mortes por Aids em 50%

JAIRO BOUER
LUCIA MARTINS

JAIRO BOUER; LUCIA MARTINS
ENVIADOS ESPECIAIS A BIRMINGHAM

Estudo apresentado em congresso médico sobre HIV mostra que nova terapia reduz infecções nos doentes

O uso do coquetel com três drogas reduziu em 50% o índice de mortalidade nos centros dos EUA e Europa que adotaram a nova terapia contra a Aids.
A informação foi apresentada ontem no 3º Congresso Internacional de Infecção por HIV, em Birmingham (Reino Unido), por Steven Schnittman, da divisão de Aids dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, e por Joep Lange, diretor do Centro de Diagnóstico e Terapia de Aids, da Holanda.
Nos últimos 12 meses, a terapia tríplice também diminuiu o número de internações e reduziu pela metade o de infecções oportunistas que atingem os doentes de Aids, segundo estudo da Universidade de San Diego e da Aids Healthcare Foundation, em Los Angeles (EUA).
A eficácia da combinação de três drogas (normalmente a mistura de AZT, 3TC e um inibidor de protease) foi consenso na conferência.
No entanto, ainda são desconhecidos os efeitos colaterais (vômitos são os mais comuns até agora notados) e de longo prazo da terapia.
O que é o coquetel
Os primeiros resultados do coquetel triplo de medicamentos contra o HIV foram apresentados este ano por David Ho, no Congresso Internacional de Aids realizado em Vancouver, Canadá.
Esse tipo de terapia combina três tipos de drogas: dois tradicionais inibidores de transcriptase reversa e um inibidor de protease.
Para se reproduzir -isto é, se multiplicar no corpo- o vírus da Aids invade as células de defesa do organismo contra infecções.
Dentro dessas células de defesa, o HIV usa uma espécie de "fôrma" para fazer novos vírus. Para usar esta "fôrma" o vírus precisa da ação de algumas enzimas -a transcriptase reversa e a protease.
Quando as drogas inibem -impedem- a ação delas, o HIV não se multiplica. Depois de usar as células de defesa como "mães" de novos vírus, o HIV as destrói.
Essas células combatem invasores nocivos do organismo -como outros vírus e bactérias. Quando o HIV já destruiu um número muito grande de células defensoras, a pessoa fica doente de Aids. Seu organismo torna-se incapaz de atacar invasores que infecções.
Em algumas pessoas que usam o coquetel triplo, o número de vírus HIV foi reduzido a "níveis indetectáveis" no sangue. Ele pode estar escondido em outros lugares do corpo, mas não pode ser contado pelos métodos atuais e fica reduzido a uma quantidade pequena para provocar danos -momentaneamente, pelo menos.
Testes
Em 1994, a Universidade de San Diego começou a estudar um grupo de 454 pacientes, com menos de 300 CD4 (células de defesa) por milímetro cúbico de sangue.
Em 94, 159 desses doentes eram internados por mês. Em junho passado (a terapia com três drogas começou no final de 96), o número de internações caiu para 49.
As infecções oportunistas (que se "aproveitam" da falta de defesa do organismo) também caíram pelo menos 50%. A infecção por citomegalovírus, que pode afetar a visão de quem tem Aids, passou de 35 casos em 94 para apenas 2.
Os pacientes ganharam, em média, 100 CD4 por milímetro cúbico de sangue após o tratamento com o coquetel (quanto mais CD4, células de defesa, mais forte fica o doente). Os problemas de pele, muito comuns em 94 (89 casos), caíram para 42.
Usar ou não no início?
Douglas Richman, responsável pela pesquisa na Universidade de San Diego, diz que, em um primeiro momento, ele prefere testar uma ou duas drogas e observar a reação. Se não houver melhora, ele usa um terceiro remédio.
Charles Farthing, diretor médico da Aids Healthcare Foundation, discorda. Segundo ele, quanto mais cedo o tratamento tríplice começa, melhores os resultados.
"A resistência às drogas e os efeitos colaterais ocorrem de qualquer maneira, usando uma ou três. Mas com três você aumenta progressivamente as chances de manter o paciente vivo."
Os médicos completaram a defesa do coquetel comparando os custos do uso das drogas antivirais com tratamentos de outras doenças crônicas.
Segundo Farthing, um doente de Aids custa até US$ 12 mil, enquanto um paciente renal ou um hemofílico exige um gasto de US$ 100 mil do governo dos EUA.

Jairo Bouer viajou a convite da Abbott

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